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por Ana Luiza Araújo Lopes

Entrei em um café em Cambridge hoje, chama Harriets, ao abrir a porta parecia que tinha aberto uma porta pra o passado. 

Um rapaz, vestido com calça social preta, colete e gravatinha nos encaminhou para a mesa. Olho em volta e vejo que todas as garçonetes estava vestidas como “maids” aquela clássica roupa de serviçais. Até não vi muito problema, mas junto com a roupa via o olhar baixo, o ombro baixo, e o constante Madam, your coffee is coming, madam do you need something else, madam. Éramos 3 mulheres, não muito mais velhas que aquelas moças trabalhando ali... 

Não sei explicar o que senti naquele lugar, mas aquela roupa trazia também um comportamento subserviente, e o mais engraçado os rapazes que trabalham naquele lugar, não tinham esse olhar, eram altivos e obviamente não me chamou de madam.

Me desculpem, mas pra mim naquele ambiente havia claramente uma política de gênero, uma que me deixou muito desconfortável, mas certamente não sentia metade do embaraço que aquelas meninas que trabalham ali sentem todo dia, vestidas daquele jeito. 

Eu me senti muito mal, e muito brava, certamente aquela porta não abrirei mais.


por Tággidi Ribeiro


Sabe, nunca me passaram a mão no ônibus, nem no metrô - o que já aconteceu com a maioria das meninas com quem falei sobre. Mas já aconteceram coisas "chatas" que quero relatar a vocês. Hoje é o dia do meu sexismo de cada dia.

Da primeira vez, no ônibus, eu na fila para pagar achava o cobrador muito animadinho com as mulheres. Estranhei. Quando eu fui passar, encostando o bilhete único na máquina, ele roubou a minha mão (acho que tocar é um verbo muito bonito e portanto não adequado pra eu usar aqui). Ele roubou a minha mão e eu me senti invadida. Eu fui invadida, porque havia bastante espaço para que a mão daquele homem estivesse bem distante da minha. O ônibus não chacoalhou, nem nada. Ele propositadamente encostou sua mão em mim. Parece mimimi de feminista, né? Pois bem. Não era a primeira vez que eu via isso acontecer, nem a última que eu veria: uma vez no metrô, outra no ônibus (respectivamente). Dois caras, duas meninas. Eles olhavam. O do metrô tinha aquele sorriso escroto. O do ônibus tinha cara de bonzinho, tímido. Tanto o metrô quanto o ônibus estavam vazios e eles deram um jeito de se encostar nas meninas. O do metrô, no braço. O do ônibus, no ombro. Houve cálculo, houve método. Havia a ideia de que isso deve ser feito: invadir, desrespeitar o espaço do corpo do outro se o outro é uma mulher vulnerável de alguma forma - uma mulher em um espaço público. O olhar excita, o toque é a prévia da punheta se não há chance para o abuso, para o estupro. Não digo com isso que esses homens são estupradores, mas tampouco posso dizer que não o são.

Da segunda vez, eu nem havia olhado para o cobrador. Simplesmente esperava com a mão aberta para receber o troco de moedas. Ele colocou o montinho no centro da minha mão e roçou com seus dedos toda ela. Eu disse "obrigada" e saí me sentindo estranha, novamente invadida. Já na rua (desci logo), me sentindo cada vez mais invadida (como se estivesse acordando para o sentido do ato daquele homem), lembrei de uma 'brincadeirinha' que os meninos da minha cidade faziam com as meninas - roçar, fazer cócegas (n)o centro de suas mãos, para excitá-las. Nós éramos meninas, adolescentes de 11, 12 anos e os meninos provavelmente haviam aprendido isto com seus amigos, parentes mais velhos: o centro da mão é algo tão íntimo quanto uma vagina. Mentira. O que é constrangedor, e que para nós, meninas, era desconcertante (reagíamos rindo às vezes, e sempre protestando), é um toque que não está no programa, é o toque inesperado, não consentido. Quantas vezes não ouvimos, depois de um toque inesperado na cintura ou no joelho: "cócega só até os 12 anos"? Esse tipo de ciência (no mau sentido) do corpo e dos desejos de uma mulher (menina, criança até), passada de geração para geração e que autoriza a invasão do corpo feminino é a base familiar, cotidiana da cultura do estupro. Não é a mídia que gera essa cultura - a mídia pertence a homens inseridos nessa cultura, que receberam esse tipo de (de)formação. A mídia perpetua a cultura de estupro - e muito bem por sinal.

Tem muito mimimi feminista guardado. Aconteceram outras coisas mais, menos e mais violentas, mas vou parar aqui por hoje, falando o pior. O pior é que eu não consigo reagir. Quem me conhece sabe da minha capacidade de ser agressiva e, hell, eu sou feminista. Eu fico paralisada, eu não entendo, eu agradeço ao cobrador (!). Eu já imaginava que essa inação tivesse  que ver com meu histórico de abuso (já falei sobre isso aqui no blog, em textos antigos). Voltando ao divã, a terapeuta confirmou. Agora, vou começar mais uma longa jornada na minha noite adentro, depois de todo o trabalho tentando me livrar da culpa, da sensação de ser suja, de achar que não merecia amor - que deu muito certo, mas acho que porque, além de eu ser resistente pra diabo, também não sofri abusos contínuos como muitas das mais sofridas vítimas...    

Eu obviamente vou conseguir. Achei que pudesse sozinha, mas vou precisar de ajuda: tudo bem, o importante é superar a questão. Até porque, quando eu superar, quando eu conseguir reagir... Quando, em vez de abaixar a cabeça, eu apertar a garganta do sujeito (já falei que eu sou agressiva?)... É nossa revolução, sabe? Eu sou vocês. Eu serei todas nós.

Espero que vocês, assim como eu, estejam em busca da reação. Ensinar os homens a respeitar e ensinar as mulheres a reagir ao desrespeito.

Anônimo

A família do meu marido é de origem alemã, eles são todos assim, usando um termo correto, robustos. Sinceramente, não ligo, como dizem por aí: quem gosta de osso é revista de moda, porque nem cachorro gosta, prefere carne, mas enfim.

A minha sogra tem uma predileção nem um pouco velada pelo meu marido, em detrimento de minha cunhada, irmã mais nova dele. Isso fica muito claro nos comentários sobre a aparência física dos dois.

Olhando para os dois irmãos, os médicos e o senso comum diriam que eles estão ambos acima do peso, embora, como já disse, os acho bem agradáveis aos olhos. Mas quando minha sogra vai comentar ela diz: Meu filho, lindo, tão forte. E para a menina: para de comer, você está gorda!

Sério, eles são do mesmo tamanho! Vai entender...


Enviado anonimamente

Acompanho o blog, leio todas as postagens e compartinho sempre na minha pagina do face os textos e dia desses recebi um comentário bem singelo de um “amigo”. De que se eu era feminista eu deveria no minimo ser gay, que no fundo eu repassava textos feminstas porque eu queria ser uma mulher...

Resumindo a conversa:

Machão - Não podem colocar uma mulher gostosa trabalhando com a gente, eu só ia ficar pensando nela pelada.
Eu – Então você fica me imaginando pelado também?
M- Claro que não!!! Não sou louco
E- Tem certeza? Se você não consegue ver uma mulher trabalhando ao seu lado sem pensar em vê-la pelada eu acho que você precisa sim de algum tipo de tratamento...
M- Ah, você desde que virou feminista tá todo cheio de frescura. Parece que quer virar mulher também.

Parei pra pensar um pouco (coisa que acho que ele deixou de fazer há algum tempo) e fui procurar algum fundo de lógica nesse argumento. 

Eu desejar que uma mulher (ou um gay, um negro, um índio, um alienígena) seja tratado com respeito e com os mesmos direitos da lei como qualquer ser humano, me faz imediatamente querer ser um deles? Não necessariamente, mas com certeza mostra uma capacidade de ao menos me imaginar na pele dessa pessoa, o que na sociedade cada vez mais egoísta em que vivemos agora é tão raro que viro motivo de piada, de incompreensão e inconformismo.

Eu não virei feminista, não virei ativista gay, simplesmente uso o bom senso na minha vida. Não sou um exemplo de nada, ainda dou risada de piadas machistas e com fundo discriminatório, ainda mantenho minha assinatura da playboy e tudo mais. Eu só quero viver em um mundo menos hipócrita, mais igualitário, minimamente humano, onde não sejamos rotulados por sexo, raça (!?!?! somos todos da raça humana ainda desde a ultima vez que chequei) e qualquer outra forma que o dominante use pra se diferenciar e se manter no domínio. 

Mas parando pra pensar agora, talvez meu “amigo” esteja certo, eu quero mesmo ser uma mulher.... Se a missão de todos na terra é evoluir, o proximo passo é nascer mulher, ser capaz de carregar a vida em formação dentro de mim, carregar em meu ventre um universo em formação, andar sem cair daqueles saltos enormes. Se a humanidade se tornou tão machista desde sempre, com certeza foi por medo do poder e da superioridade feminina sobre nós homens. 

Nas palavras de George Carlin: Deus com certeza é homem porque se fosse mulher não teria deixado as coisas virarem essa zona... 

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Enviado anonimamente


Nesses dias de calor, muitas vezes tenho vontade de dormir descoberta, mas nunca o faço. Mesmo que eu esteja nua, um lençol sempre me cobre e, se teimo em não me cobrir porque está muito quente, logo fico desconfortável e, de certa forma, me sinto desprotegida. 

Dia desses, tentando investigar as causas desse desconforto e insegurança tolos – afinal de contas, moro em uma área quase que absolutamente segura da cidade -, a imagem da minha avó surgiu e me lembrei de quantas vezes, quando eu era criança, ela instava que eu me cobrisse, dizendo que deus não protegia as meninas que dormiam só de calcinha. Então, era assim: com lençol, protegida por deus; sem lençol, exposta ao capeta. 

Pronto, achei minha resposta. E, ao mesmo tempo, me lembrei do quanto o corpo de alguém do sexo feminino é alvo dos olhares e das censuras em qualquer idade. Lembrei-me de que parei de andar só de calcinha aos cinco anos de idade. Havia alguma coisa de muito errada em mostrar os peitos – peitos, ao cinco anos de idade!!! E era bom também vestir shorts, porque ali, no meio das minhas pernas, tinha uma coisa que precisava ficar bem escondida. Por isso, colocar as pernas para cima ao sentar era motivo de repreensão sempre. 

Penso, hoje, que essa nossa sociedade é mesmo muito doente nessa objetificação do corpo feminino. Me consideram mulher desde sempre (desde os cinco anos de idade!!!) – figura que atiça os desejos incontroláveis dos machos e que por isso deve ser coberta por muitos véus. Mas, assim como as burcas dos muçulmanas, as calcinhas, shorts, saias, vestidos, camisetinhas das meninas ocidentais não as protegem, bem sabemos - também aos cinco anos sofri meu primeiro abuso. 

Por quê? Porque não ensinaram o menino mais velho da minha escola a respeitar o corpo das meninas; pelo contrário, devem tê-lo instigado a devassá-lo, como costuma acontecer. Porque me ensinaram a me cobrir e a sentir vergonha, mas não me ensinaram que meu corpo é meu e ninguém tem o direito de tocar nele sem meu consentimento.

Fico pensando nos pais e mães de filhos e filhas pequenas. Essa é a grande responsabilidade de vocês: ensinar seus filhos a respeitarem o próprio corpo e o corpo dos outros; sem a culpa cristã do desejo, saber lidar de forma saudável com a sexualidade infantil, ao mesmo tempo em que tenta protegê-la das garras oleosas dos adultos e das crianças corrompidas por estes.

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Enviado por Raquel

Aqui vai um exemplo de como a nossa cultura sexista nos impregna de tal forma que, quando menos esperamos, nos pegamos a perpetuá-la. 

Sempre fui contra o poder autoritário e pela igualdade nas relações. Sempre me considerei feminista. Hoje em dia estou aposentada (do trabalho, não da ideologia) e às vezes dou uma ajudinha às mães mais jovens da família, que dão um duro danado, como eu quando tinha filhos pequenos e a idade delas. Pois bem, estava há alguns dias na função de tia-avó, quando meu sobrinho foi tentar montar um brinquedo e não conseguiu. Diante da sua dificuldade, eu disse espontaneamente: 

"Quando você chegar em casa, você pede para o seu pai te ajudar!" 

Algumas horas depois, faltava pilha em outro brinquedo e eu falei: 

"Na sua casa, o seu pai troca para você". 

Então o garotinho levantou os olhos e me respondeu: 

"Ô tia, por que é que quando é coisa de montar você fala pra eu pedir pro meu pai? A minha mãe também sabe fazer essas coisas!" 

Pois é, por quê? Boa pergunta! Era a verdade óbvia saindo da boca da criança e, para a minha perplexidade, o sexismo saindo da minha!

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ou O caso do pé-dofilo por Hadassa M. M. Vieira


Ontem estava em uma das unidades da Caixa aguardando para ser atendida quando um senhor se senta ao meu lado e começa a puxar papo. Educadamente, mas sem prestar muita atenção, fui conversando com ele sobre banalidades... a chuva, o trânsito, etc.


Eis que, do nada, ele olha pra mim e começa:

- Sabe como é, todo mundo tem suas manias... a minha é pé! Adoro um pé. Eu tava reparando que seu pé é super delicado, pé pequeno...
- Ahan
- Quanto você calça?
- 33
- Nossa, que pé pequenininho... Tira o sapato pra eu ver?
- ...

Olhei com cara de "WTF"

- Deixa eu ver?
- Moço, eu vou ser gentil e vou lhe explicar porque não vou te mostrar meu pé. O senhor não pode chegar para uma estranha e assediar a pessoa dessa forma! Isso é abusivo, invasivo e desrespeitoso! Dá um tempo né?!

Segundo ele, não tinha nada de mais pedir pra ver meu pé...

Fala sério? Você não pode ir ao banco sem ter q aturar merda!

Seguindo a lógica do momento, ninguém mandou eu ir ao banco de sapatilha, acho que eu "pedi" por isso... :S

por Tággidi Ribeiro

Esse relato poderia servir pra um dos nossos Sexismos de Cada Dia, mas vou postá-lo aqui. Assim aproveito e já falo umas coisinhas que há tempos venho pensando e sobre as quais outras pessoas têm pensado também - ainda bem!

Fim de ano no ano passado e tod@s nós aproveitamos pra reencontrar amigxs, confraternizar, beber umas cervejas, brincar de colega (rs) secreto e tal. Estava eu indo pra uma dessas confraternizações, andando pela rua apressada, porque estava um tanto atrasada, quando sinto um toque no meu braço e ouço a frase já ouvida por tantas de nós em tantas situações ao longo da vida: "Moça, você é linda". Sem nem pensar retirei meu braço com rapidez e disse um 'obrigada' baixo (sim, eu disse) ao mesmo tempo constrangido e raivoso e segui meu caminho.

A expressão chave aqui, na minha opinião, é 'ao longo da vida'. A gente nasce recebendo elogios à nossa beleza física. Somos crianças e ouvimos prognósticos - 'vai dar trabalho', 'vai ficar linda'. Desde pequenas, o nosso fito, ou melhor, o fito dos outros para nós, é sermos bonitas, antes de tudo: 'vamos colocar essa roupa pra ficar bonita', 'não chora que fica feia'.

Já falamos sobre isso, sobre a valorização absurda da beleza física feminina, aqui no blog. Falamos também sobre o que acontece depois que uma mulher 'perde' essa 'beleza', que hoje em dia significa basicamente engordar ou envelhecer. E também já falamos sobre essa educação perversa que transforma crianças do sexo feminino em bibelôs que o patriarcado chama de princesas - as quais depois ataca como fúteis. Ainda assim, esse 'ao longo da vida' é tão forte que eu - feminista - respondi 'obrigada' a um homem impertinente e desrespeitoso que teve a capacidade de tocar numa desconhecida e dizer sua opinião sobre a aparência dela.

Esse 'obrigada' está entranhado em mim, em nós, porque nos fizeram crer que um elogio à nossa aparência, vindo de qualquer um, é de fato um elogio, quando é, na verdade, a reprodução em discurso do lugar que ainda se acredita deva ser o da mulher até ser mãe - o lugar do enfeite. 'Mulher tem que ser bonita' - ouço um monte de homem, mesmo se considerado feio, dizer; 'mulher feia nem pra zona presta', ouvi ontem dizerem, a respeito da novela Salve Jorge e daquelas prostitutas traficadas, forçadas, todas lindíssimas. Quer mais pra achar que 'linda' não é assim elogio de fato? Homem no geral não fica #chatiado se não tem a beleza elogiada, nem se não tem beleza; também não fica especialmente feliz se é bonito e recebe elogios - o valor de um homem independe da beleza física.

Mas o relato não acabou no caminho que segui, pois logo ouvi gritarem meu nome. Olhei para trás e um grande amigo me chamava. E em sua roda de amigos estava o homem que instantes antes havia tocado e 'elogiado' uma desconhecida. Seu constrangimento não podia ser maior. Como assim, então, ele estava sendo apresentado para a mulher que pouco antes chamou de 'linda'?! Mas, vejam bem, como eu disse, seu constrangimento era grande, não sua felicidade. E não porque eu lhe tratasse mal - ele estava na mesa com um meu amigo, eu não o confrontaria nessa situação. Ademais, eu falava muito apressadamente com meu amigo, que estava apressada, afinal de contas. Enfim, fui embora logo, dando um tchau geral e propositadamente reparando no meu entusiasta, agora mais murcho que alface em fim de churrasco. Não perguntou a meu amigo quem eu era, não pediu meu telefone.

www.facebook.com/pages/Homem-Feminista-de-Verdade
Aquele homem não tinha me elogiado, nem me cantado. Aquele homem tinha usado seu direito de me encher o saco, de tocar em mim sem jamais ter me visto (!) dado pela nossa sociedadezinha machista. Só isso. Por isso, em tantas discussões com esse meu amigo, eu rebati o argumento repetido por ele (e por quase todos os outros homens) de que 'parar de olhar e falar com mulheres na rua é o fim da cantada'. Bem, se a cantada é só a sua expressão babaca sobre o corpo de uma mulher, então que seja o fim. Agora, se a cantada é aquilo que tem o objetivo de chamar a atenção de uma mulher - pra que aconteça a conversa, o beijo e por aí vai, então agir como adulto maduro e feminista faz bem. Aqui vai a receita: olhe para a mulher de seu agrado sem fazer dela um pedaço de carne, veja se ela retribui esse olhar e fale com ela. O resto é mimimi de quem não se preocupa com o outro - nós, mulheres, que, quem dera, ouvíssemos de abuso verbal só 'você é linda' ao longo da vida.



Enviado por Sílvia T.

Trabalhei em um dos maiores escritórios do país, em minha área de atuação do Direito. Por questões exclusivamente pessoais resolvi deixar o escritório e trabalhar no interior.

No interior, comecei a advogar em um escritório familiar, onde fui muito bem recebida e me sinto absolutamente respeitada. No entanto, por se tratar de uma cidade pequena, e em razão da tradição de meu chefe, antigo e respeitado advogado, "volta e meia" senhores distintos, e figurões políticos locais (interior...) estão sempre aparecendo para um "café". 

Sempre sou apresentada nestas ocasiões e para meu horror estes senhores sempre soltam aquele "bonita e inteligente", ou então "essa moça vai casar logo", ou ainda "mas vocês precisavam mesmo de uma moça dessas, chega de tanto homem por aqui". 

Se estou de bom humor sorrio sem graça, se estou meio "atravessada" já vou logo dizendo "sou casada" ou então "menos, meu senhor", o que deixa o pobre coitado do meu chefe roxo... O engraçado é que ando toda encapotada, sóbria (sou advogada, oras), e sou de pouca conversa, então eles têm mesmo que ser muito abusados pra vir com gracinha.

Eu fico me perguntando que imagem os homens têm das mulheres em geral pra falarem algo do tipo "bonita e inteligente" ao ouvirem uma mulher formulando uma frase completa e conexa, e lhes explicando algo sobre política, economia e direito... Me pergunto se enquanto estamos explicando a problemática, o bocó está pensando em como uma mulher pode pensar e ser bonita? Então é auto-excludente, a mulher é bonita ou é inteligente? LOGO, A MULHER SÓ SERVE PARA ENFEITAR? Tudo o que vier a mais é lucro, será extraordinário?

Eu me pergunto isso quase todos os dias, quando ouço essa idiotice, pois acreditem, meninas, estou cagando pra beleza, quanto à inteligência (minha vaidade, confesso), me esforço muito, não sou besta.

E até papagaio fala, fazer o quê.

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Enviado por Fernanda

Trabalho numa empresa multinacional de grande porte e constantemente mencionam o fato de eu ser mulher. Meu ex-chefe, por exemplo, já me disse: "Ah, por você ser mulher, até que você cresceu rápido na empresa. Sobre a questão salarial, é assim mesmo."

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Enviado por Fernanda


Estou grávida e li uma boa esses dias numa rede social. 
Meu marido colocou na página dele que 
nosso bebê é uma menina e um tal comentou: 
"É, agora você não é mais consumidor e sim fornecedor"

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Enviado por Carol Gual

Recém voltada de uma temporada na Europa para fazer parte do meu doutorado, me vi na obrigação de comprar um carro uma vez que o transporte público em Campinas é caro, deficiente e perigoso (especialmente para uma mulher à noite - mais uma face do sexismo de cada dia).

Na minha peregrinação para achar o melhor negócio, estive sempre acompanhada do meu companheiro que adora negociar preços. Mas a escolha era minha, o carro era meu, o dinheiro era nosso. 

Numa revenda, chegamos para descobrir mais sobre um dos modelos. O sexismo começou já com o fato do vendedor - daqueles bem típicos vendedores de carros de seus 60 anos - começar a falar apenas com meu companheiro. O João logo foi dizendo que o carro era meu, então quem tinha exigências e opiniões acima de tudo era eu. Veio o primeiro comentário engraçadinho tipicamente machista: "Ah, é a patroa quem manda, o marido não tem escolha nenhuma mesmo".

Saí para fazer um test drive. No caminho o vendedor foi falando sobre as características do carro e tudo mais. Ao estacionarmos de volta ele abriu o capô para mostrar a motorização e veio o comentário machista número 2: "Essa parte agora é com o maridão, não vai interessar você". Confesso que não entendo de mecânica, mas isso não quer dizer que eu não poderia queria saber quantos cavalos tem o motor, quais cuidados eu deveria ter etc. Pergunto sobre o consumo. Ouço o comentário machista número 3: "Com mulher dirigindo, deve fazer uns 14 km por litro, mas se for como eu aí vai bem menos". Aí eu não resisti e respondi: "Bom, então comigo vai fazer pouco porque eu gosto de pisar bem". 

Os comentários do vendedor não foram o único motivo que me fizeram não optar por esse carro (o preço e o modelo também influenciaram), mas confesso que saí da loja tão desanimada. O pior é que todo comentário é feito num tom de brincadeira, como se fosse piadinha sem consequência. 

Comprei meu carro numa outra concessionária onde o vendedor me tratou simplesmente como um@ comprador@ e não como uma mulherzinha cujo marido iria agradar com um carro novo.

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por Roberta Gregoli

É uma satisfação anunciar que hoje o Subvertidas faz 7 meses! 

Foram 106 postagens e mais de 34 mil visitas de diversos países do mundo. Parabéns às nossas excelentes colaboradoras e um obrigada enorme a todxs que nos acompanham e compartilham nossas postagens.
As Subvertidas ganhando o mundo:
mapa de origem dos visitantes do blog
Para celebrar nosso aniversário, vamos inaugurar uma nova seção no blog, o Sexismo de cada dia. Inspirado no projeto The Everyday Sexism, uma iniciativa bem-sucedida e interessantíssima que gerou até ameaças de morte à autora. A ideia é compartilhar instâncias de sexismo e machismo vividas no dia-a-dia. Relatos de sexismo associado a outros preconceitos, como homofobia e racismo, são particularmente bem-vindos.

Projetos parecidos existem já em português, como o Cantada de rua - conte o seu caso - que, na minha opinião, deveria se chamar assédio de rua. Essas iniciativas são importantes porque combatem um dos pilares fundamentais para a perpetuação da opressão de gênero: a negação de que a opressão de gênero ainda exista. O famoso "feminismo é coisa do passado", "machismo não existe mais", "feminista quer achar pelo em ovo" e diversas variações dessas frases.

A iniciativa vai em linha com a concepção de blog coletivo, que tem como proposta dar espaço a uma pluralidade de vozes, refletindo a pluralidade do feminismo e da própria experiência das mulheres, que muitas vezes são mal representadas por noções essencializadoras como "a alma feminina", "a sexualidade feminina", etc. Não escondemos que nós, as colaboradoras, temos muito em comum, incluindo classe e etnia, por isso também aproveitamos a oportunidade para convidarmos novas colaboradoras a fazer parte da equipe.

Para participar do "Sexismo de cada dia", envie sua contribuição (de qualquer tamanho) para subvertemos@gmail.com. Indique também no email como quer ser identificadx (pelo primeiro nome, nome completo, apelido ou de maneira anônima). Vamos montar uma fila de contribuições e vamos publicando aos poucos, nos intervalos das postagens das colaboradoras.

Para o pontapé inicial, começo eu:

Abordei dois professores brasileiros, ambos homens trabalhando em universidades de prestígio no Brasil e de renome internacional na área, para ver se se interessavam no meu projeto de pesquisa de doutorado (representações de gênero no cinema brasileiro). Ambos disseram que o corpus de filmes que eu tinha escolhido era interessante, mas que eu devia descartar a parte de gênero. Porque não era assim tão "interessante". Ignorei os dois, claro, e passei em Oxford com o projeto original.

Aguardamos suas contribuições!

Como Conquistar um Homem