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por Roberta Gregoli

Desde que comecei este blog e, mesmo antes disso, quando comecei a me identificar mais forte e abertamente com o feminismo, várixs conhecidxs, em graus variados de boa intencionalidade, me questionaram. Me perguntaram se feminismo não era o contrário de machismo, e por isso igualmente radical; me perguntaram se não era melhor ver as pessoas simplesmente como pessoas, sem rótulos como mulheres, negros, etc (a resposta para estas perguntas estão aqui); e sempre tem um ou outro que faz piada, fica desconfortável ou ri quando eu digo que sou feminista. 

Isso não me incomoda, mas me levou a um outro tipo de auto-questionamento: por que agora? Afinal de contas, eu sempre fui mulher e a sociedade não mudou muito nos 30 anos em que estive neste mundo. 

Acho que existem alguns fatores pessoais, outros mais gerais. Pessoalmente, tenho estudado gênero há alguns anos e, quanto mais 'treinamento' se tem, mais se enxerga o machismo. É a velha história do fusca verde. Você compra um achando que não tem igual, mas a partir daquele momento começa a ver fuscas verdes em todo o lugar. A conscientização é um processo muito forte e é um dos principais objetivos deste blog. 

Mas mesmo quem nunca estudou gênero pode se identificar com as ideias feministas, sobretudo quando o sexismo bate na porta - e ele certamente bate na nossa porta aos 30.

Aos 30 anos algumas pressões sociais começam a pesar mais forte: você começa a se questionar sobre a sua carreira e, como mulher, percebe que é mais difícil chegar ao topo. Na escola e na faculdade você provavelmente se destacou - não faltam evidências de que as mulheres em geral vão melhor na escola e formam a maioria dxs ingressantes, e concluintes, na universidade -, mas, de repente, se vê ganhando menos que a maioria dos seus colegas homens. É como se, até o final dos estudos nos dissessem que podemos chegar lá, e, por nós mesmas nos damos conta de que, na verdade, não. Essa barreira invisível, porém amplamente verificada no mundo todo, é chamada teto de vidro (minha tradução de glass ceiling, já que o conceito não está ainda popularizado no Brasil). O teto de vidro não se resume a um fator isolado, mas sim a uma combinação de fatores, mensuráveis ou não, que impedem as mulheres de chegar ao topo, independente do grau de escolaridade e qualificação profissional.

E evidências da existência do teto de vidro não faltam: lacuna salarial de quase 30% no Brasil, menos de 4% de mulheres CEOs nas 500 maiores empresas dos Estados Unidos, 18% de mulheres nos cargos mais alto das universidades europeias (e apenas 9% de reitoras, apesar de 59% dxs graduandxs serem mulheres), discriminação de gênero e raça em processos seletivos (que pode ser consciente, do tipo "pede-se boa aparência", que é outro jeito de dizer "brancx", ou inconsciente, e aqui entram processos de identificação em que o chefe, muito provavelmente homem e branco, tem mais chances de se enxergar naquele "jovem promissor" do que numa jovem tão promissora, e talvez tão ou mais qualificada).

Para as que ainda não se decidiram, os 30 é também a época em que provavelmente mais nos questionamos se queremos ou não ter filhos - e enfatizo estas palavras porque está claro que no Brasil ainda persiste a infeliz ideia da maternidade compulsória. Aí entram questões como o equilíbrio entre vida pessoal e carreira e o desafio de se passar da jornada dupla para a jornada tripla de trabalho.


Aos 30 anos, começamos a sentir os primeiros sinais do envelhecimento e, num contexto em o valor das mulheres é medido exclusivamente pela aparência, trata-se de um processo desafiador. Não importa a competência, o sucesso, a inteligência, o talento... que o diga Hillary Clinton, Adele, Dilma Rousseff.

Enfim, acho que os 30 é quando começamos a ficar fartas - tirando as que foram mais espertas mais cedo. É quando cansamos de ver que os chefes dão mais atenção, e valor, ao que um homem fala do que ao que você fala, mesmo você sabendo que suas ideias têm mais substância; quando cansamos de trabalhar o dobro para ter o mesmo reconhecimento; quando estamos sábias o suficiente para entender que cantadas não são elogios e sim mais uma forma de abuso verbal; quando entendemos que a impossibilidade de amizade entre homens e mulheres é um mito baseado na ideia de que mulheres não podem ser mais do que objetos sexuais; quando nos damos conta de a competição feminina é uma grande balela com o objetivo de nos manter desunidas.

É por isso que sou feminista. E é por isso que agora, mais do nunca: porque, para mim, o feminismo me ajuda a entender, melhor do que nunca, o mundo e a minha circunscrição nele.


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