Limites. Ainda dá tempo?
Os pais de adolescentes convivem com um eterno desafio, que é impor limites aos filhos. "É um fenômeno da alternância de gerações", teoriza o psiquiatra paulista Içami Tiba. "Os pais dos jovens de hoje foram educados de forma autoritária e, com medo de repetir o erro com os próprios filhos, acabaram caindo no extremo oposto, que é a permissividade." Para os pais que descuidaram da tarefa de colocar freios na infância e agora têm de lidar com adolescentes intratáveis, uma má notícia: com o tempo, fica difícil reverter esse quadro. Mas não é impossível, claro. "O adolescente é um ser em desenvolvimento. Mesmo que seja um caso perdido, os pais nunca podem partir dessa premissa", afirma o psiquiatra Francisco Baptista Assumpção Junior, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Para auxiliar os pais nessa tarefa espinhosa, existe uma vasta literatura sobre o assunto. Lançado recentemente, Limites sem Trauma, da educadora carioca Tania Zagury, já vendeu 50.000 exemplares de dez edições. Disciplina – O Limite na Medida Certa, de Içami Tiba, tornou-se um sucesso, com 356.000 livros vendidos em 36 edições. O que os pais devem ter em mente, em primeiro lugar, é que não adianta agir como no passado. Antigamente, quando um filho queria fazer alguma coisa que os pais reprovavam, bastava um deles dizer: "Você não fará isso porque eu não quero". E o assunto estava encerrado. Isso não funciona mais. Os jovens são mais bem informados. São mais questionadores. Isso é bom. Significa que, no futuro, não irão aceitar qualquer coisa que lhes for imposta. Os pais, no entanto, ganharam um trabalho extra. Não basta proibir. É preciso justificar, com bons argumentos, a proibição. Antigamente, eram os filhos que tinham de dar explicações aos pais. Hoje, são os pais que, na hora dos limites, as dão aos filhos. "O pai moderno é aquele que estabelece limites com fundamentos educacionais", ensina Tania Zagury.
Os especialistas concordam em um ponto: a boa educação do adolescente é aquela que começa na infância. É preciso estabelecer regras claras desde cedo para evitar futuros problemas de comportamento. A falta de limites é encarada como algo negativo pela própria criança. Para ela, isso pode ser sinônimo de falta de afeto. Outro problema frequente é a discordância entre os pais. É importante que ambos cheguem a um acordo antes de impor as regras. Caso contrário, a criança fica sem saber quem está certo. Ou, pior, pode explorar essa contradição. Os especialistas comparam o processo educacional a um barco. É importante que, desde a infância, os pais remem na mesma direção.
Trata-se de um desafio complicado, mas é essencial enfrentá-lo. A falta de limites não causa apenas constrangimento familiar. Um jovem que burla as regras em casa e não é punido tende a fazer o mesmo fora. E as punições do mundo real costumam ser mais severas. Pesquisas mostram que grande parte dos adolescentes de classe média que dirigem embriagados, tomam drogas ou entram em brigas de gangues – provocando acidentes ou arriscando a própria integridade física – vem de famílias que não souberam impor limites a eles.
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