por Roberta Gregoli
Não deu na Globo, mas estamos aqui |
Globo, aquela que acaba de promover violência doméstica no horário de maior audiência, na novela mais popular dos últimos tempos. Nem os 6 anos de Lei Maria da Penha e toda a visibilidade da lei servem para mudar esta mentalidade que é, agora no pior sentido da palavra, ignorante.
Violência doméstica em horário nobre |
Graças aos céus pelas mídias alternativas, que dão voz a nós, mer@s mortais sem conexões no mundo midiático nem famílias quatrocentonas. Fico muito contente de ver vári@s amig@s compartilhando comigo notícias, charges e vídeos. Não ligo que pensem "na amiga feminista" antes de pensarem "como o machismo é injusto": algo que antes passaria despercebido já não passa mais. O passar despercebido é justamente o que faz persistir um dos maiores mitos do patriarcado, segundo o qual o machismo não existe, sexismo é coisa do passado, feministas estão procurando pelo em ovo, a desqualificação do movimento, enfim. A conscientização, então, tem um papel fundamental porque é o primeiro passo para a revisão de comportamentos e valores e, com sorte, o primeiro passo para a mudança.
Pessoalmente, a minha conscientização se deu muito através de choques culturais, que me fizeram entender outras concepções do aceitável, e forçosamente levaram ao questionamento da minha cultura original. Fora o Brasil, a Inglaterra é o quarto país em que já morei e foram muitas as histórias de choque cultural com relação a gênero. Algumas engraçadas, outras preocupantes, mas todas elucidativas.
Tocar alguém sem consentimento é assédio |
Morei na Nova Zelândia por um ano num intercâmbio de graduação entre a Unicamp e a Universidade de Auckland e essa experiência foi marcante por ter sido a primeira vez que morei no exterior. Lá tinha contato com um brasileiro que a certa altura me contou que havia sido expulso de uma boate por "desrespeitar as mulheres" (a justificativa dada pelo segurança que o expulsou). Eu perguntei, nossa, o que ele tinha feito. Ele disse que o mesmo que fazia no Brasil, ou seja, nada demais. Mas aí está o ponto da questão: o que é aceitável no Brasil (nesse caso, confrontar mulheres numa boate com cantadas diretas e, dependendo do ponto de vista, agressivas), lá era desrespeito. A melhor parte da história vem depois, quando ele, estudante de classe alta de São Paulo, acima da lei, foi bater boca com o segurança, mas se esqueceu que lá era só um imigrante de segunda categoria e levou um murro na fuça.
Também me lembro de carregar um mochilão pesadíssimo ao lado de um amigo alemão que, mesmo de mãos abanando, não se ofereceu para me ajudar. Na época achei estranho, mas hoje entendo o quanto no Brasil a educação das meninas é ainda baseada fortemente em ideias de fraqueza e fragilidade. Hoje entendo que, por me considerar uma igual, ele não achou que eu precisasse de ajuda, assim como ele não ofereceria para um amigo homem naquela situação. Em resumo, ele não menosprezou a minha força física.
Eu não sou cachorro, não assobie para mim |
Ainda na Nova Zelândia, no começo achava que não era considerada atraente porque os homens não mexiam comigo na rua. Um ano depois, ao desembarcar de volta na América Latina, me lembro de como eram invasivos os olhares e as cantadas desrespeitosas nas ruas de Buenos Aires. Aprendemos que ser apreciada é ser assediada e isso simplesmente não está certo.
Assédio de rua |
A partir de hoje está no ar uma seção nova chamada 'Blogs feministas', logo abaixo à direita. Assim ajudamos a divulgar espaços de ideias alternativas à mídia tradicional, já que nela somos invisíveis.
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