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por Mazu


Como é que é??

Este post vai ter um tom de desabafo, mas espero que a companheirada me perdoe. Estou aqui lembrando de quando a Bárbara teve uma semana super legal, só que não. Esse foi o meu final de semana massa, só que ao contrário. Fui chamada de feminista exagerada, extremista e acusada de ser incapaz de escutar a opinião alheia. Vai vendo. Justo eu que, na real, sempre me achei uma feminista de moderada a leve. Isso porque eu não entro em todas as discussões e dou até um sorriso amarelo quando meu chefe faz suas observações sexistas. Não me julguem, preciso pagar as contas.

Sei que tem uma das blogueiras famosas que se autodenomina “feminista cansada”, não sei bem se ela está cansada pelos mesmos motivos que eu, mas, cara, como cansa.

E sabe por que cansa tanto? Porque a gente se pega tendo a mesma discussão várias vezes, de diversas formas, com várias pessoas e, às vezes, com as mesmas. Esse feriado que passou, tive que repetir umas cinco vezes que feminismo não é o contrário de machismo, que a culpa da tripla jornada de trabalho não é das sufragistas (sim, eu escutei essa barbaridade de uma mulher jovem e bem resolvida), que a Carminha (a da novela) não merecia apanhar e que se a gente andasse de burca, o índice de violência contra a mulher não diminuiria nem no Distrito Federal e nem na China. Eu estaria feliz se tivesse mudado alguma coisa em alguém, mas parece que só fiquei mesmo com a fama de feminista chata e nada razoável.

De qualquer forma, serviu para refletir sobre algumas coisas. E uma matéria de revista me ajudou muito nisso. A Época de outubro de 2012 traz a seguinte matéria de capa: “A Mulher venceu a guerra dos sexos: elas estudam mais, são mais valorizadas no trabalho e já nem querem saber de namorar para não atrapalhar a carreira. Os homens que se cuidem...”.  Parece exagero, mas aí mora a origem de todo o mal: andam vendendo um imaginário de que a mulher já alcançou o máximo que poderia alcançar na nossa sociedade e que os homens estão ameaçados. Meu Deus, que bobagem!

Essa sensação de que já estamos com todos os direitos conquistados faz o feminismo parecer obsoleto e ridículo. E isso é um tiro no pé de todo mundo, inclusive dos homens. Já dissemos milhares de vezes no blog, a independência das meninas é a independência dos meninos. Ninguém precisa proteger ou sustentar uma mulher, hoje em dia, e isso tira peso de responsabilidade dos dois lados.

Sobre a tripla jornada de trabalho, a gente não trabalha mais porque a gente quer. Esta é a ideologia mais reacionária do planeta: a de que as minorias fazem ou deixam de fazer as coisas porque querem, já que hoje somos todos iguais. (Ai, faça-me o favor, vamos estudar história, né?) O que aconteceu é que as mulheres ganharam espaço no mercado de trabalho, mas ainda convivemos com a ideologia patriarcal de que a casa e os filhos são mais nossos que dos caras. O que não tem nada, absolutamente nada, a ver com as sufragistas. (Pelamor!) Tem a ver com a ideologia dominante do patriarcado. E se essa ideologia ainda exerce pressão sobre nós, mulheres, deixa eu te contar, moça, o feminismo ainda tem muito motivo para existir.

Um dos objetivos do blog é mostrar que as feministas não são loucas raivosas, e estou, hoje, tendo dificuldade com isso, já que estou cansada (como acabei de explicar) e com raiva, e a matéria da Época só não está pior porque acabou em cinco páginas.

A matéria começa falando de uma novela dos anos 1980 que está sendo readaptada. Indiferente, não foi boa antes, não vai ser boa agora. O ponto mais ou menos válido do início da matéria é que como alguma coisa mudou na sociedade em 20 anos, a readaptação meio que reflete isso. Por exemplo, uma das personagens era uma mulher mais livre sexualmente e, nos anos 1980, sua liberdade sexual foi censurada, hoje em dia, ela se sente mais enturmada socialmente. Uau.

A partir daí, a matéria começa a descrever como ocupamos o mercado de trabalho, como somos protegidas por algumas leis e como somos maioria nas Universidades. E segue dessa forma, duas páginas e meio de alegria, mostrando todas as nossas conquistas que, durante o texto, foram chamadas de “cataclismos sociais”, juro, na página 72:

“O mais provável que é que estejamos olhando para mudanças permanentes, como as provocadas por cataclismos sociais como o voto feminino ou a Segunda Guerra Mundial, que exigiu a presença feminina nas fábricas.”
Excelente escolha lexical da jornalista!

Depois de toda essa alegria, alguma coisa aconteceu com quem estava escrevendo a matéria, eu penso que um troço chamado “pesquisa” tenha acontecido com ela, e ela começou a apresentar os dados de que já falamos no blog algumas vezes. Ocupamos o mercado de trabalho, mas ainda ganhamos menos, somos menos promovidas, vivemos mais estressadas porque existe a pressão de ser bem sucedida no trabalho, mas existe a pressão de ser mãe e esposa para ser feliz. No cenário político, a participação ainda é pequena e tals. A matéria diz até uma coisa que gostei muito de ler sobre o fato de estarmos sobrecarregadas com essas pressões todas: “ou as empresas se adaptam ou as mulheres terão de rever seu papel em um dos dois lugares” (casa ou escritório). Ainda que isso possa soar como outra forma de pressão do tipo "pense bem no que você quer ser", é libertador, de certa forma, pensar que não precisamos ser tudo. Ainda que ser uma boa profissional e uma boa mãe de família seja comum, hoje em dia, é massacrante. E a gente tem direito de escolher, ou uma coisa ou outra.

Aviso para a Época: esta propagando foi retirada pelo Conar por ser machista e racista,
não é um sinal de vitória para mulher nenhuma.
De repente, a matéria ficou legal apontando como no Brasil, as mulheres ainda são mais apegadas a tradição patriarcal. Aqui, ter marido e filhos é prova de sucesso para mulher. É fato. E é inesquecível quando a seguinte situação acontece com você. Você estuda e se vira e tem suas coisas e escuta: você é casada? Tem filhos? Responde que não e percebe aquele olhar de desprezo na sua direção. Quem nunca?
Grifei Teló e Du Loren,
na lista de "sinais" de vitórias

Bom, a matéria estava indo super bem falando que, hoje, a mudança depende menos das leis e mais de comportamentos que precisam ser alterados, até o último parágrafo em que trouxe uma frase do Silvio de Abreu (Who?): “a mulheres já garantiram o espaço e estão por cima. O homem é que passou a reivindicar o seu lugar.” Meu Deus. Não. Como a matéria trouxe tantas pesquisas e pesquisadoras legais e opta por terminar com essa frase de um sujeito que não tem tradição nenhuma na pesquisa sobre gênero? Só porque ele escreveu uma novela chamada “Guerra dos sexos”?

Tanto esforço e tempo que a gente passa dizendo que “você não está sendo oprimido quando uma minoria exige direitos que você sempre teve”. Tanto tempo mostrando números absurdos de violência e para quê? Para uma grande revista de grande circulação vir com essa conversa de que já ganhamos, está tudo dominado, os homens que se cuidem? Sério como assim alguém acha que “Ai se eu te pego” do Michel Teló e a propaganda racista e preconceituosa da Du Loren são sinais de que já alcançamos nosso lugar ao sol? Como não ficar brava, como ser razoável? Alguém me ajude com isso.

Que canseira e que desânimo. Para começar, não existe guerra dos sexos ou, pelo menos, não deveria existir, já que ter direitos iguais é legal para todo mundo porque ninguém tem mais responsabilidade do que ninguém. Em segundo lugar, esse tipo de matéria e de ideias que ela propaga só serve para deixar os homens na defensiva, e isso não ajuda o movimento. Aliás, não ajuda ninguém.



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