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por Tággidi Ribeiro

Nesse post aqui eu falei sobre o fato de sermos sexualmente muito estimulados, mas sermos ao mesmo tempo sexualmente infelizes (ou incompletos, ou insatisfeitos - sem dúvida, ao mesmo tempo tolhidos). Falei também do potencial econômico dessa infelicidade - não por acaso, alusões a sexo em propaganda são usadas pra vender até hambúrguer.

E está na propaganda, justamente, a nossa doença: estamos doentes dos olhos. A propaganda mostra não o que queremos ver, mas aquilo que devemos querer ver; não o que queremos, mas aquilo que devemos querer e que, em algum momento, parece tornar-se o desejado e, mais, indispensável. Sim, a propaganda é perversa a ponto de transformar o desejo, fabricado por ela mesma, em necessidade. Desejo e necessidade são constitutivos do nosso ser e é só com isso que a propaganda brinca. "Pensar é estar doente dos olhos", diz um verso de Fernando Pessoa, como Alberto Caeiro. Enquanto olhamos a infinidade de imagens de todos os dias, a propaganda (quem ganha com ela) pensa por nós e nos molda.

E quando as mulheres podiam ter barriga.
Padrão atual.
Padrão atual.
Molda tanto a mente quanto o corpo de homens e mulheres. Mas o corpo ideal do homem mudou muito pouco desde os gregos, enquanto o corpo feminino sofreu uma mudança tão radical que mal reconhecemos nas imagens antigas as mulheres que um dia desejamos. Ao lado, Marylin Monroe, ícone máximo de beleza e sensualidade de sua geração, não parecia menos desejável por 'ter barriga'. Hoje em dia, contudo, ela estaria numa daquelas listas de celebridades 'descuidadas' ou de fotos antes do photoshop. "A origem do mundo", quadro de Gustave Courbet que esteve no centro de uma polêmica recente, tem apenas pouco mais de 150 anos e, no entanto, o corpo de mulher ali representado seria rejeitado pela maioria dos homens do nosso tempo (e criticado pela maioria das mulheres - inclusive pelo 'excesso' de pelos). E o que dizer da Monalisa, da Vênus de Milo? Os homens se dizem naturalmente atraídos pelas mulheres bonitas, mas a propaganda nos vem mostrar a força da construção cultural ao adoecer os olhos de todo um gênero, fazendo-o crer que há um universal, no tempo e no espaço, para a beleza de catálogo.
 
Vênus de Milo.

A origem do mundo.
Além de reconhecer a beleza em uns poucos estereótipos, estar doente dos olhos é também exacerbar o uso da visão e saber muito pouco dos outros sentidos. Tem gente, por exemplo, que faz sexo mas não é capaz de sentir a pele e o cheiro do parceiro, ou de ouvi-lo - gente reduzida ao olho. Se falo de sexo é porque é sem dúvida na nossa atividade mais potencialmente satisfatória, prazerosa e desestressante, que os sentidos se fazem sentir. Contudo, a nossa falta de preparo, a nossa falta de exercício dos sentidos está cotidianamente, ininterruptamente, em nós. Não nos damos conta dos cheiros à nossa volta, nem dos barulhos, nem do que tocamos ou que nos toca. Nosso paladar é sofrível. Só aquilo que é agudo demais é que a gente percebe: sal demais ou açúcar demais; funk alto no busão; o cheiro do rio poluído. Somos uns coitados, nesses sentidos - sempre tendo que ignorar o mais possível o que nos incomoda ou o que nos faz bem porque, enfim, temos pressa, e porque, afinal de contas, não podemos consertar tudo o que não presta, nem gozar de tudo que nos faria feliz. Não temos o nosso tempo. Só temos tempo de olhar as imagens em ultravelocidade na rua, na tv, na internet - desejar ter ou ser aqueles corpos da propaganda, gastar o quanto for preciso para tanto. Sonhar solitariamente com eles.

Beleza de outro tempo?
Loira, lábios e seios siliconados. Favor lipoaspirar a barriga.



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