Na novela global "Amor à vida", o casal Lutero e Bernarda, interpretado pelos atores Ary Fontoura e Natália Timberg, tem dado o que falar. Ambos são idosos e cultivam um romance no folhetim de Walcyr Carrasco. O casal, aliás, já teve até a sua primeira noite de amor. Quem ficou espantado com o sexo na velhice foram Félix (Mateus Solano) e Pilar (Susana Vieira), ambos neto e filha de Bernarda. Como assim minha avó ou mãe já idosa pode fazer sexo? O fato é que a vida sexual na velhice ainda é considerada um tabu na sociedade. A velhice é o fim do erotismo?
Para a antropóloga, Mirian Goldenberg, que pesquisa há mais de 25 anos o comportamento de homens e mulheres brasileiros, a sociedade costuma enxergar na terceira idade o fim do erotismo por preconceito.
"As pessoas acreditam que a velhice é uma fase de ausência de desejos, de vontades, de abandono. Na verdade, continuamos sendo quem sempre fomos, muitas vezes até mais livres do que somos. Velho é sempre o outro. No entanto, velho somos nós, hoje ou amanhã. Se todos pensarem assim, vão enxergar outras possibilidades na velhice. Os velhos descobrem inúmeras possibilidades na vida, em todas as áreas, inclusive sexualmente", opina Mirian, que lançou recentemente o livro "Bela Velhice" (Ed. Record).
Sexo na velhice tem pesos diferentes para eles e elas?
Uma pesquisa realizada em 2009 pelo Data Folha mostrou que quase metade dos idosos tem relações sexuais uma vez ou mais por semana. Mesmo para os que já têm mais de 75 anos, 24% se revelaram sexualmente ativos. Já 88% dos homens entrevistados dizem nunca ter usado remédio azul, embora até admitam alguma mudança no desempenho. A pesquisa entrevistou 1.238 pessoas com 60 anos ou mais em 140 municípios de 24 Estados e do Distrito Federal.
A antropóloga conta que a forma como a pessoa viveu o sexo ao longo da vida influencia a forma como o sexo será na terceira idade. "Quem sempre gostou provavelmente vai querer continuar exercendo a sexualidade. Muitas mulheres que não gostavam talvez vivam a velhice como uma fase em que podem se aposentar deste aspecto da vida. É o que muitas dizem: que podem focar em outros prazeres e não no sexo, elas não sentem falta. Portanto, depende muito do peso que o sexo teve em outras fases da vida", diz.
Para a pesquisadora, os homens são, em geral, mais livres para exercer a sexualidade em todas as fases da vida inclusive na velhice. "Por isso, eles se preocupam mais com a continuidade da vida sexual na velhice do que as mulheres", opina Mirian. Para a psicóloga especialista em sexualidade Juliana Bonetti, o lugar reservado para a terceira idade na sociedade é pouco valorizado e repleto de inverdades principalmente em relação ao sexo.
"Existem vários relatos clínicos de pessoas mais velhas que possuem uma vida sexual intensa e vibrante. Isso porque se valoriza muito mais a juventude do que a maturidade quando o assunto é sexo, mas o idoso tem relação sexual sim, idoso se masturba sim e pode proporcionar sim muito prazer a sua parceria", explica Juliana.
O desejo sexual diminui com a idade?
Se esse desejo sexual vai ou não diminuir com a idade, a psicóloga explica que depende como de como cada pessoa lida com a passagem do tempo e que o desejo sexual é algo muito subjetivo por mais significativas que sejam as mudanças no corpo e no organismo. 'Há pessoas com intensa volúpia de vida, que não vão se abalar com o passar dos anos e nem com a chegada da velhice. Muito pelo contrário, saberão tirar proveito e encontrarão soluções para possíveis problemas. No entanto, há sim limitações que podem impedir uma vida sexual sadia e constante, mas estas, em sua maioria, são de ordens emocionais', diz.
Essa redução da libido por questões emocionais pode ocorre devido à entrada em novo ciclo de vida e as várias mudanças de vários setores que precisam ser administrados. 'Os filhos que vão embora, o corpo que já está esteticamente diferente, algumas limitações corporais impostas pela idade, entre outras questões', comenta Juliana Bonetti.
A velhice traz a perda da libido?
A sexóloga e ginecologista Carolina Ambrogini, coordenadora do Projeto Afrodite, centro de sexualidade feminina do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que há sim uma diminuição da libido na velhice principalmente nas mulheres, mas não são todas as pessoas que apresentam essa queda. Isso ocorre porque há uma diminuição progressiva dos níveis de testosterona em homens e mulheres.
'O desejo sexual pode diminuir, mas isto não representa a maioria das pessoas. Estudos mostram uma queda de 30% nas mulheres. As limitações podem ser físicas, por doenças crônicas como o diabetes e uso de medicações que acabam por causar efeitos negativos na sexualidade. Os relacionamentos de longo prazo representam o maior desafio e manter o desejo aceso pela mesma pessoa por muitos anos é a grande dificuldade', opina.
Carolina ressalta que a sexualidade não é composta apenas de hormônios e que se o relacionamento estiver bom e instigante e a pessoa estiver bem consigo mesma, a libido vai existir. 'O que acontece é que as relações se tornam menos frequentes, mas com mais qualidade. Se o (a) idoso (a) for solteiro, pode apostar que, ao se apaixonar, a libido vem com tudo mesmo que a pessoa tenha 90 anos. As dificuldades do envelhecimento podem ser contornadas facilmente com boa orientação médica e também dos parceiros', observa.
fonte: tempo de mulher
Postar um comentário