por Tággidi Ribeiro
Aconteceu tanta coisa e eu quero falar sobre tantas outras que este post vai ser um apanhado geral de notícias das semanas passadas e pensamentos avulsos. Vou falar por tópicos, que fica mais fácil pra todo mundo, né?
1. Racismo (e machismo, claro): a ministra italiana de origem congolesa Cecile Kyenge foi comparada a um orangotango pelo vice-presidente do Senado italiano, Roberto Calderoli, no dia 13 de julho deste ano. Uma semana depois, um manifestante jogou bananas em direção a ela. Vereadores retiraram-se em protesto à presença dela em uma reunião da qual legitimamente participava. O líder de seu partido, Roberto Maroni, recusou-se a defendê-la. Fico pensando no antagonismo dessas forças: branco e negro, Europa e África, homem e mulher - e no quanto é necessário caminhar, tão distantes ainda estamos, em direção à concordância. Penso no Congo, onde nasceu Cecile, o pior país do mundo para as mulheres. Penso na Itália e na vergonha que deveria sentir de si mesma, por permitir tal desrespeito à própria ideia de humanidade.
2. Exploração sexual e patriarcado: a Itália continua na minha cabeça, por causa de Berlusconi. Condenado a sete anos de prisão por prostituição de menores, em junho deste ano, o ex-premiê italiano era grande amigo de Muammar Gaddafi, ex-ditador líbio assassinado durante a 'primavera' de seu país. Gaddafi tinha dezenas de escravas sexuais. Ao longo de seus quarenta anos de poder, estuprou milhares de mulheres, muitas delas ainda adolescentes, que simplesmente 'arrancava' da casa dos pais. Penso em Dominique Strauss-Kahn, que se livrou de ser preso por estupro e hoje enfrenta processo por 'proxenetismo', e me pergunto: quanto do sexo podre - da exploração sexual de mulheres, adolescentes e crianças - não será financiado pelo dinheiro dos homens que mandam no mundo?
3. No mundo: no Japão, a cúpula da Federação nacional de judô renunciou depois que seu diretor admitiu ter abusado sexualmente de uma atleta. Outras acusações envolviam abuso e violência durante os treinos e ainda uma condenação por estupro. Na China, Tang Hui, uma mãe que denunciou os homens que estupraram e obrigaram sua filha de onze anos a se prostituir tornou-se símbolo da luta contra a opressão das mulheres. Tang Hui foi condenada a 18 meses de trabalhos forçados, mas os chineses ficaram do seu lado e ela foi solta. No fundo do meu sentimento, essas vitórias me parecem derrotas, mas não desanimo.
4. E não deixo de desanimar, porque essa espiral louca da história nos coloca mais uma vez diante da desrazão, não travestida de razão desta vez. De repente, parece que a loucura do mundo quer se reafirmar no poder puro e simples, na submissão dos corpos, no ódio mesquinho ao diferente e no aniquilamento como solução. Rússia, Itália e Brasil não se podem dizer países não-esclarecidos - muito menos, no entanto, lúcidos. Enquanto a Rússia assina leis homofóbicas e a Itália se mostra fraca na reação ao racismo e à xenofobia, o Brasil dá cada vez mais lugar à voz religiosa não do amor, mas da mentira: a bancada religiosa insiste em dizer que a lei que prioriza o atendimento a vítimas de estupro abre brechas para o aborto.
5. Por essas e outras é que a performance em que dois artistas quebraram estátuas e simularam atos sexuais com elas durante a JMJ me pareceu legítima. O corpo da estátua não é um corpo digno de pena, nem tampouco o corpo de instituições, sejam elas religiosas ou laicas, que massacram o corpo-carne das pessoas. Aproveito para lembrar Amarildo, que é só mais um dos tantos corpos que se desintegram, vítimas dessas instituições.
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