por Mazu
Eu não sou um homem
(Harold Norse, EUA, 1916-2009)
Eu não sou um homem, não consigo ganhar a vida, comprar coisas novas pra minha família.
Eu tenho espinhas e um pau pequeno.
Eu não sou um homem. Eu não gosto de futebol, boxe e carros.
Eu gosto de expressar meus sentimentos. Eu até gosto de colocar meu braço sobre os ombros de meus amigos.
Eu não sou um homem. Eu não vou jogar o papel que me foi atribuído – o papel criado pela Madison Avenue, pela Revista Playboy, Hollywood e por Oliver Cromwell.
Televisão não dita meu comportamento.
Eu não sou um homem. Uma vez quando atirei num esquilo eu jurei que nunca mais mataria de novo. Desisti da carne. Ver sangue me deixa doente.
Eu gosto de flores.
Eu não sou um homem. Fui preso por resistir ao recrutamento. Eu não brigo quando homens de verdade me batem e me chamam de bicha. Eu não gosto de violência.
Eu não sou um homem. Eu nunca estuprei uma mulher. Eu não odeio os negros.
Eu não fico emotivo quando agitam a bandeira. Eu não acho que deveria amar a América ou deixá-la. Eu acho que eu deveria rir dela.
Eu não sou um homem. Eu nunca tive gonorréia.
Eu não sou um homem. Playboy não é minha revista favorita.
Eu não sou um homem. Eu choro quando estou triste.
Eu não sou um homem. Eu não me sinto superior às mulheres.
Eu não sou um homem. Eu não uso suspensórios.
Eu não sou um homem. Eu escrevo poesia.
Eu não sou um homem. Eu medito sobre paz e amor.
Eu não sou um homem. Eu não quero te destruir.
São Francisco, 1972(tradução de Jeff Vasques)
Lendo esta belíssima tradução feita pelo nosso compa Jeff, me peguei pensando em todo estereótipo que envolve o masculino.
A gente fala muito no blog do que é ser mulher em uma sociedade machista, mas o estereótipo do homem com H maiúsculo também não deve ser bolinho não.
Obviamente, as mulheres sofrem mais discriminação e violência, mas, na real, ninguém é livre e ninguém pode ser. O machismo oprime a todos nós.
Não ia ser massa, a gente em uma sociedade que respeitasse o que se tem de "masculino" e o que se tem de "feminino" em cada um? Ninguém é unidimensional, e isso que é o bonito da humanidade, né? Imagina o dia que a gente aceitar? Que lindeza que vai ser...
Postar um comentário