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por Mazu 

        Se todas as potências do homem na visão, na audição, nos recursos imensos do cérebro, nos recursos gustativos, nas mãos, na tactilidade, nos pés, se todas essas potências foram dadas ao homem para educação, para o rendimento no bem, isso é, potências consagradas ao bem e à luz, em nome de Deus. Seria o sexo, em suas várias manifestações, sentenciado às trevas?
- Chico Xavier 


Se você anda pelo Brasil, física ou virtualmente, e se não mora embaixo de uma pedra, tem acompanhado as várias manifestações contra o Pastor Feliciano. Elas estão por todo lado, na rua, na chuva, na fazenda, nas internets ou numa casinha de sapê. Este post vai destoar um pouco das manifestações porque vou defender o Feliciano. Brinks. Impussibru. (Bazinga!)

Bom, já assumi, sou uma pessoa religiosa, já fui mais, mas a culpa não é bem de Deus e, sim, dos que acham que falam em nome dele. É, gente tipo o Feliciano. Já falei sobre minha fé e o feminismo aqui. A Thaís e a Tággidi trataram lindamente de religião e preconceito aqui e aqui. Para a gente não ficar se repetindo, vou tratar só do Parco Feliciano. Isso porque, pelo visto, muita gente parece não entender qual é o problema dos movimentos sociais (feminista, LGBT, dos direitos humanos) com o Impastor. Abaixo, numerei alguns exemplos do que escutei e li nos debates gerados em torno das afirmações do Feliciano:



1) A implicância com o Feliciano é preconceito contra evangélicos e cristãos?

Não. Gostaria de deixar assim bem claro que o problema que temos com o Feliciano não tem relação com a religião dele. O Jean Willis fez uma nota bem legal sobre isso. De minha parte, vou fazer uma brincadeira: eu até tenho amigos evangélicos, logo não sou evangelicofóbica. 

Agora, falando sério, o problema não é a religião, é o uso que ele faz da religião para justificar e legitimar os próprios preconceitos. Existe muita gente religiosa, inclusive evangélica, putíssima com as afirmações babacas dele.



2) A gente não tem direito à opinião? E a liberdade de expressão?

Lógico que tem. E a liberdade de expressão continua incompreendida, a coitadinha. Direito à opinião e à liberdade de expressão é uma garantia nos dada pela nossa maravilhosa, LAICA e nem sempre cumprida Constituição Federal de 1988. Mas, como todas as garantias e as liberdades individuais, a liberdade de opinião não é absoluta, não, bro. Todas as liberdades individuais têm o seguinte limite: o outro. Lindo, né? Me gusta. 

Assim, eu posso ter opinião, você, nós podemos, como cidadãos comuns, civis, ter a nossa opinião, por mais ridícula que ela seja e desde que ela não prejudique outras pessoas. A gente pode fazer tudo o que a lei não proíbe. Agora, um agente público, um agente político, um deputado tem a liberdade muito mais limitada que a nossa. Eles só podem fazer o que a lei permite. Por incrível que pareça. Logo, o deputado Feliciânus não pode sair por aí fazendo e falando qualquer coisa. As ações desses caras têm que estar dentro das leis, de acordo com a nossa amada salve, salve Constituição que não é, pasmem, a bíblia. E a Constituição PROÍBE discriminação religiosa, de manifestação ideológica, cor, raça e, além disso, equipara homens e mulheres em direitos e obrigações. Lá no comecinho já, artigo 5º, ou seja, não está nem no fim, nem oculto ou escondido na CF, está nas primeiras páginas mesmo. São garantias expressas.

Outro problema é que um deputado com essas opiniões fortes e ofensivas é uma ameaça constante aos nossos direitos adquiridos. Um exemplo, o cara acha que o desmantelamento da família como instituição e o aumento da homossexualidade é culpa dos direitos que as mulheres adquiriram. Aliás, como diria a Feminista Cansada, ele acha que SE as mulheres exercessem esses direitos, elas ameaçariam aquelas instituições. Vai vendo, até os caras mais conservadores sabem que a gente não tem acesso a todos os direitos que estão no papel.

De toda forma, essa culpabilização da mulher é uma opinião mal formada e mal informada. Primeiro que a estrutura patriarcal de família sempre terá problemas e passará por crises porque é excludente, limitadora e preconceituosa. Se a família do jeito que o patriarcado idealiza não existe, é porque o seu próprio sistema é falho. Outra coisa, a homossexualidade não "aumentou", detesto quando falam isso, como se fosse um problema. O que acontece é que, hoje, as pessoas têm um pouco mais de liberdade sexual. E Feliciano ameaça diretamente esse pouco que, ao mesmo tempo, é muito, do que a gente já conquistou.

Por isso que a opinião dele não é simplesmente uma opinião. Essa pessoa que abre a boca para dizer isso, é a pessoa que pode (sim, tem o poder de) criar e mudar as leis. Perceba e entenda o nosso pânico.



3) Eu sou homem, branco e hétero, Feliciano não me interessa (atinge).

Há. Senta aí, bonito. Xô te contá. Agora, por enquanto, não. Afinal, é mais fácil começar pelas minorias (que apesar do que o Felicianta acha, não significa minoria numérica, tá?). Mas se você gosta do seu direito de ser ateu, agnóstico, católico ou qualquer outra coisa que não evangélico, cuide-se, viu. Se você foi criado por uma mulher que trabalhou fora (e, provavelmente, dentro) para te manter, se você tem uma companheira com quem divide as contas, cuida também, viu. Os direitos ameaçados não te afetam diretamente, mas gente intolerante no poder, de alguma forma e em algum momento, atinge todo mundo. Se não hoje, logo mais.

4) Os  evangélicos não podem ter representação parlamentar?

Uai, poder pode. O que não pode é tentar passar e impor suas crenças para o resto do país. Oferecer a cura gay na igreja não é proibido, embora, pessoalmente, pareça-me absurdo. Agora, transformar a cura gay em lei não pode. Fere diretamente a liberdade de um monte de gente.

É assim: num Estado laico que prega a liberdade religiosa, as crenças ficam nas respectivas casas (igrejas, terreiros, centros, etc.). No Congresso, os pastores não devem ser pastores; nem os padres, padres. Isso porque eles não representam apenas os que votaram neles, ali, eles estão por todo mundo. É pra ser simples, cada um no seu quadrado, e todos se respeitando.

5) E aí, a gente faz o quê?

Muitas coisas. Para começar, a gente se junta aos protestos. Pode parecer que não adianta, mas adianta. Devemos ir às manifestações e assinar as petições. A mentalidade felicianística ameaça não só os direitos dos homossexuais e das mulheres, ameaça o Estado democrático que a gente vem buscando há tempos e queima muito o filme dos cristãos. Então, bora participar.

Para terminar, tenhamos pensamento crítico. Não por nada, não, sem querer ofender, se você tem uma religião que prega violência contra o diferente, talvez seja interessante pensar melhor a respeito. Estudar um pouquinho de história, ver tudo de horrível que esse tipo de pensamento já causou e ainda causa. Mas, assim, de boa, sem querer pregar contra nenhuma religião. Sei lá, me chame de louca, mas Deus, pra mim, é amor.

Tággidi subvertendo!

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