Giovanna Tavares
Novo estudo mostra que jovens em contato constante com dispositivos eletrônicos tiveram mais dificuldades em decifrar emoções de outras pessoas através da leitura facial
Tablets, smartphones e outros aparelhos digitais já fazem parte da rotina de entretenimento e educação das crianças. Seja por meio de uma proposta pedagógica ou não, os pequenos aprendem a manusear os aparelhos cada vez mais cedo. Mas será que essa interação pode ter algum efeito negativo no desenvolvimento infantil?
Não existem muitos estudos sobre o uso de aparelhos digitais pelas crianças, mas um dos mais recentes feito por especialistas da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, aponta que o cenário não é muito animador. A pesquisa foi realizada com crianças de 11 a 12 anos e revelou que as habilidades sociais delas estão diminuindo por conta do uso assíduo desses aparelhos.
Erro de identificação
Segundo os pesquisadores, alunos que passaram cinco dias sem acesso a dispositivos eletrônicos tiveram um desempenho melhor para decifrar as emoções de outras pessoas através da leitura facial do que os jovens que fizeram uso desses aparelhos.
Durante esses dias, 105 crianças foram avaliadas. O primeiro grupo, que ficou isolado, precisou avaliar 48 imagens de rostos com expressões emocionais variadas, como alegria, tristeza, raiva e medo. Eles também assistiram a vídeos com atores interpretando as emoções descritas acima.
Depois das experiências, as crianças precisaram entregar aos professores as respostas relativas às imagens e aos vídeos assistidos. A taxa de erros de identificação entre as que frequentaram o primeiro grupo caiu de 14.02% para 9.41%. Entre os alunos que continuaram com os aparelhos eletrônicos, essa taxa de erros permaneceu praticamente igual.
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“Aparelhos eletrônicos e a própria internet não são bons nem maus, depende do uso que fazemos deles. Nada em excesso é saudável. Algumas crianças ficam tão dependentes dessa interação digital, com redes sociais e jogos online, que começam a apresentar prejuízos significativos na vida escolar, social e familiar”, atenta Cristiane Lorga, psicóloga e especialista em intervenção familiar.
Muitas vezes, esses aparelhos são usados equivocadamente pelos pais. Quando a criança está inquieta ou precisa de atenção, acabam sendo entretidas com tablets e smartphones, para não “incomodar” os pais. É aí que o uso abusivo pode ser interpretado como algo natural pelos filhos.
“Isso é muito negativo. Inconscientemente, os pais impedem que criança tenha uma troca afetiva com a família. Filho saudável é aquele que dá trabalho, que precisa do acolhimento e dos limites dos adultos”, reforça Maria Eduarda Vasselai, psicóloga infantil.
Desequilíbrio
Uma das preocupações dos educadores infantis tem relação com a presença dos smartphones em sala de aula. Por estimular diferentes zonas cerebrais simultaneamente, o uso excessivo desses aparelhos diminuiria a capacidade de se concentrar e prestar atenção ao conteúdo passado em sala de aula.
Segundo Cristiane Lorga, a criança pode apresentar sinais de ansiedade e irritabilidade, sendo diagnosticada com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), em casos mais extremos. Mesmo assim, é preciso avaliar com muito cuidado os sintomas apresentados. Dispersão não é sinal de que os filhos tenham algum tipo de transtorno ou doença por conta dos aparelhos eletrônicos.
Aproximação de pais e filhos
A dificuldade para ler emoções compromete as relações sociais e promove um isolamento social. As crianças precisam da interação na vida real para vivenciar experiências que nenhuma tela touchscreen pode oferecer. Para os especialistas, a comunicação cara a cara continua sendo o método mais eficiente para criar laços afetivos com familiares e amigos.
Pessoas em geral, sejam elas adultos ou crianças, precisam de um tempo livre dos aparelhos digitais. Isso não significa que eles precisem ser combatidos ou vistos com tanta resistência por pais e especialistas. É possível trabalhá-los de forma construtiva na educação dos pequenos.
“O equilíbrio seria se os pais aproveitassem a rapidez e inteligência dos filhos para descobrir coisas novas, aprendendo juntos. A tecnologia pode melhorar a aproximação entre adultos e crianças, se utilizada com bom senso”, defende Cristiane Lorga.
>> 26 atitudes que aproximam pais e filhos (Clique aqui e leia a matéria na íntegra):
Desde os primeiros meses de vida, os filhos entendem tudo que os pais falam. Converse com o bebê, conte sobre o ambiente à sua volta, sobre o mundo
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Deixe o bebê, sob a supervisão de pelo menos um adulto, tocar objetos da casa e sempre fale o nome de cada um deles
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Brinquem de construir objetos com jogos de encaixe de peças. Além de pais e filhos ficarem juntos, a criança desenvolve a coordenação motora
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Montem um quebra-cabeça com seu filho. Escolha o jogo de acordo com a idade da criança – há opções para todas as faixas etárias
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Brinque de esconde-esconde com as crianças, dentro de casa ou ao ar livre. Deixe que ela vença de vez em quando, para se sentir confiante
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Solte bolinhas de sabão com as crianças. Elas adoram! É melhor que seja em lugares abertos, pois o sabão pode deixar o piso da casa escorregadio
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Independentemente da idade de seu filho, sempre converse com ele olhando nos olhos. Isso mostra atenção e honestidade
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Desafie os filhos a apostar pequenas corridas em ambientes amplos. Evite fazer isso na sala, por exemplo, para prevenir acidentes com os móveis
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Comemore pequenas coisas: o novo legume que a criança finalmente resolveu experimentar, um acerto em um jogo. Todo mundo gosta de elogios
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Se o dia livre estiver bonito, vá a um parque com a família, faça um piquenique. Quebrar a rotina em uma das refeições faz bem de vez em quando
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Leia um livro com seu filho e peça que ele leia em voz alta alguns trechos – crianças que leem mais escrevem melhor e têm vocabulário mais amplo
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Desenhe ou pinte com seu filho. Deixe-o livre para escolher cores e o estimule a falar sobre o que está fazendo – muitos sentimentos são revelados assim
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Estimule os pequenos a tocar flores, folhas e árvores quando estiverem em parques ou jardins. O contato com a natureza desenvolve o respeito por ela
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Vá para a cozinha em família: faça uma receita no fim de semana com a participação de todos e dê à criança tarefas seguras, longe de facas e do fogo
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Chame seu filho para ajudar a lavar a louça depois das refeições. Ele pode colocar os itens menos delicados, como panelas, no escorredor
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Determine um período do dia para acompanhar a lição de casa e ajude apenas quando a criança pedir. Não queira fazer a lição por ela
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Reserve 15 minutos da noite para conversar sobre o dia que está acabando. Deixe a criança contar o que aconteceu na escola e conte algo seu também
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Aproveite o tempo dentro do carro para conversar com seus filhos. Cantar uma música de que todos gostem também é um bom passatempo familiar no trânsito
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Participe de todas as reuniões de pais e mestres da escola e converse com os pais dos amigos de seus filhos sobre a relação deles
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Mostre álbuns de fotos e conte histórias da família para seu filho, se possível mostrando outros parentes. É importante que ele conheça suas origens
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Assistam juntos a um filme por semana – pode ser no cinema ou na tv – e troquem ideias sobre a história logo na sequência
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Deixe o adolescente convidar amigos para passarem a tarde na sua casa. Procure não se intrometer nas conversas: mostre respeito para poder exigir o mesmo
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Leve a filha adolescente à manicure ou a ensine a fazer as unhas em casa. A vaidade feminina aproxima mãe e filha
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Pratique um esporte com o filho adolescente. Também podem ser aulas de dança ou de idiomas, desde que seja um interesse comum
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Faça uma viagem em família. Pode ser um dia em uma cidade próxima ou um mês no exterior – o importante é estarem todos juntos longe de casa
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Demonstre carinho e amor pelo seu cônjuge perto dos filhos. Eles aprenderão o que é um relacionamento equilibrado e buscarão o mesmo para eles
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Fonte: Uso excessivo de tecnologia prejudica habilidades sociais das crianças»
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