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O Ministério da Saúde discute incluir a vacina contra o HPV (papilomavírus humano) no Programa Nacional de Imunização. Se aprovada, a vacina será para meninas de 9 anos a 13 anos, com custo em torno de R$ 600 milhões anuais. Apesar disso, o secretário da Comissão de Doenças Infecto-Contagiosas em Ginecologia e Obstetrícia da Febrasgo, José Eleutério Junior, acredita que a vacina também deveria ser aplicada em homens.

Há uma intensa discussão científica global sobre o público alvo destas campanhas públicas. Isto porque o HPV está relacionado a praticamente 100% dos casos de câncer de colo de útero (o segundo que mais afeta as mulheres), mas também está associado a pelo menos metade dos casos de câncer de pênis.

“No Brasil, em especial, é aconselhável vacinar homens porque a incidência de verrugas é alta. O país é o segundo com maior número de casos de câncer de pênis no mundo. São de 5 a 11 casos para 100 mil habitantes, dependendo da região. Nos EUA, é 0,5 para 100 mil”, explica.

O HPV é a doença sexualmente transmissível mais frequente no mundo. Dados indicam que 80% da população entrou em contato com o vírus alguma vez na vida. Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), 25% das brasileiras estão infectadas, apesar de só 3% a 10% delas desenvolverem um câncer relacionado.

O lado masculino

Um estudo holandês publicado no periódico PLoS Medicine de dezembro de 2011 discute a eficiência das campanhas públicas de vacinação apenas para meninas. As conclusões são de que, apesar de a transmissão de homens para mulheres ser mais ineficiente, o que tornaria a vacinação de homens mais efetiva para reduzir a infecção em todos os níveis, as campanhas atuais têm sido suficientes.

Jeremy D. Goldhaber-Fiebert, professor da Universidade de Stanford, nos EUA, escreveu um editorial sobre o artigo em que afirma que a vacinação masculina não só diminuiria as doenças relacionadas ao HPV diretamente nos homens, como também reduziria a circulação do HPV na população, indiretamente melhorando a proteção das mulheres. Entretanto, o estudo conclui que a melhor estratégia é que a cobertura da vacinação contra o HPV em mulheres seja o mais abrangente possível.

No Brasil, o projeto de lei da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) propõe a vacinação gratuita para mulheres entre 9 a 40 anos, porém o Ministério da Saúde é contra a inclusão da vacina por lei e prevê a vacinação na rede pública apenas para meninas de 9 a 13 anos. Para o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, a ampliação do acesso ao exame de papanicolau e a melhoria do tratamento das lesões seriam a melhor solução para as mulheres em idade correspondente com a vida sexual.

O professor americano é contrário a esta ideia e defende a vacinação como o melhor método para combater o câncer de colo de útero. "É melhor prevenir o desenvolvimento do câncer com a vacina. Vale lembrar que muitas mulheres em países em desenvolvimento não tem acesso aos exames [periódicos de papanicolau que detectam lesões pelo vírus]", destacou. Grazziotin lembra que os Estados do Norte do país apresentam as maiores taxas de mortalidade pela doença, exatamente pela falta de acesso ao tratamento.

Vacinas

Existem duas vacinas contra o HPV, a quadrivalente e a bivalente. A quadri cria anticorpos para os dois principais tipos do vírus causadores do câncer (16 e 18) --os mesmos da bivalente --e também para dois tipos que geram verrugas genitais (6 e 11).  A vacina protege contra 70% dos casos de câncer de colo do útero.

A maioria dos países adota no sistema público a vacina quadrivalente. O Reino Unido divulgou no final de 2011 que a partir de setembro deste ano irá substituir a vacina dupla (fornecida desde 2008) pela quádrupla. Segundo pesquisa feita na Austrália, houve redução de 90% das verrugas genitais com a vacinação no sistema de saúde do país.

Para Eleutério Junior, é importante também proteger a população contra as verrugas genitais. “Temos cerca de 30 milhões de pessoas com verrugas todo ano no Brasil. Assim, é de interesse geral vacinar não só para prevenir o câncer, como também a própria DST”, conta.

A vacina, hoje só é fornecida na rede privada e custa cerca de R$ 400 a dose. Ela é aplicada em três doses. Para o governo, cada dose deve sair por US$14 mais impostos. Eleutério destaca que a decisão do governo por uma ou outra vacina deve ser pelo preço mais competitivo.


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