Fiz recentemente a amigos, homens e mulheres, duas perguntas simples: 1) o que você mais valoriza em seu relacionamento?; e 2) o que é pior, a traição sexual ou a deslealdade e a mentira?
As respostas dadas à primeira pergunta mostraram que amor, carinho, compromisso, amizade e sexo são necessários em qualquer relação. À segunda pergunta, as respostas foram unânimes: sem confiança não pode haver um bom relacionamento. Para o grupo ouvido, fidelidade vale menos num relacionamento amoroso do que a confiança e a amizade.
Existe uma tendência entre os homens e as mulheres de valorizar o companheirismo, a proteção, o carinho e a ternura. Era de esperar, tendo em vista as mudanças que ocorreram na sociedade nos últimos tempos. A queda na repressão contra a sexualidade levou a uma queda na importância dada pelos casais ao sexo e à fidelidade. Claro que não é nada agradável saber que seu amor se relacionou sexualmente com outra pessoa, mas isso deixou de ser o mais importante.
A valorização da mulher como pessoa e como uma igual ou melhor profissionalmente contribuem para essa mudança nos relacionamentos.
Numa cultura machista, fazer sexo com alguém que não seja o companheiro é imperdoável. Uma mulher pode ser morta (e isso muitas vezes acontece) se o marido descobre que teve relações sexuais com outro, mesmo sendo algo passageiro. É uma questão da “honra” machista, como se o corpo da mulher pertencesse ao homem — embora o dele não pertença a ela e ela não seja desonrada quando o marido transa com outras. Sendo a mulher dona do próprio corpo, assim como de seu dinheiro e de sua profissão, mudou essa mecânica. E numa cultura mais equilibrada, que equipara homens e mulheres, é natural que se valorize nos relacionamentos amorosos a amizade, que pressupõe a troca, a equidade e a possibilidade de cada um expor suas fraquezas e se mostrar como é na realidade.
É por essa razão que muita gente tem ciúme dos amigos do marido ou da mulher. Machuca pensar que é para eles que contam suas intimidades, que são eles que procuram quando estão tristes ou quando têm novidades. E é até relativamente comum que amigos da juventude, ao se reencontrarem, muitos anos depois, apaixonem-se e comecem uma relação de amor; muitos casamentos acabam quando velhos amigos se reencontram.
O fato é que ter um amigo em quem se possa confiar passou a ser o bem mais valioso numa relação. Se incluir sexo, melhor. Por isso, quando ocorre uma traição, o que dói mais não é a parte relativa ao sexo, mas a quebra da confiança. Dificilmente ela se restabelece. O relacionamento pode até continuar, mas a alegria da espontaneidade vai-se embora.
O resultado do levantamento que fiz, portanto, não surpreende. Muita gente hoje pensa como meus amigos, que consideraram o carinho e a amizade entre parceiros tão valiosos quanto o sexo. Um casamento pode durar muito se os envolvidos forem grandes amigos, mas para que a relação seja plena um não deve excluir o outro. Perdoar uma traição meramente sexual é fácil, o difícil é perdoar a deslealdade e a mentira.
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