E agora? E agora, danou-se.
Ou não.
Assim:
Recebo um e-mail, mas é um e-mail que eu mesmo escrevi. Escrevi e mandei, de mim pra mim. Nesse e-mail, colei frases que vocês me enviaram. Elas resumem um punhado de dúvidas que chegaram. Todas envelopam uma questão fatal.
“João, o coração dói, o coração bate, e cada batida é uma torturante interrogação: o que eu faço se de repente percebi que quero o meu amigo? Que a gente se dá bem mas que podia rolar um beijinho na receita, um sexo. Ou até amor. Que fazer? Fazer? Não fazer? Estraga a amizade? Dá pra manter as duas coisas? Por quê? Por que o mundo é assim? Seria tão perfeito…”
Ó, sabe o que eu acho?
Não seria tão perfeito.
Perfeito só existe enquanto não existe.
E ainda assim, eu acho que dá.
E acho que não dá.
TUDO É QUASE IGUAL
Meninas, mesmo as amizades passam pela dinâmica dos altos e baixos. A vida é pulso, né? Às vezes, a gente curte, a gente se aproxima. Às vezes, se afasta, descurte, machuca.
Homem e mulher, juntos, sai faísca. De algum jeito. De qualquer jeito. Nem que seja dum só lado. Porque saiba, se não foi você, ele, o seu amigo, em algum momento, mais bêbado ou mesmo só com água no sangue, em algum momento ele já te imaginou nua. Já imaginou beijando ou transando. Pode ter durado um átimo, a distância entre o passeio do Bóson, mas sim, eu sei, se não foi você, foi ele: algum dos lados fatalmente já pensou em beijar, transar, dormir juntinho com o outro.
Acho normal, acho ok, acho bonito.
Que a amizade, na verdade, é o amor mais possível, mais lindo, mais escondido. É o formato mais afinado de união. Que a amizade, tendo muito menos o peso da posse, daquele sentimento, daquele grilhão horrendo que prende a gente no outro quando se é casal, que faz a gente sofrer de ciúme ou demolir a vida quando o outro vai embora…
AMIZADES COLORINDO
Ah, meninas, a gente não sabe amar. A gente sabe ter. Quem ama, aprende que amar é ter. E não ouve a lição essencial: amor é a coisa mais sutil e frágil do mundo. Donde é um milagre. Que amarrar duas inescapáveis solidões sob o mesmo passo, isso sim é uma impossibilidade das mais incríveis e admiráveis da existência. Ainda assim, a gente faz tudo errado.
E por isso, pra que a gente não esqueça que o amor é possível, a gente escondeu ele sob um nome: amizade.
Que a amizade, livre de tudo isso, das amarras, da posse, ela oferece um petisco do que seria o amor perfeito. Mas a amizade é e sempre será um quase: ela seria tudo de bom, não fosse o fato de que nesse tipo de amor, falta uma coisinha essencial: pele na pele.
Falta cor.
Não sei se é possível, meninas. Eu acho que é. Mas eu acho que tudo é. Embora esse tudo quase sempre não aconteça. Esse tudo quase sempre é nada.
O normal é isso aí que a gente vê: amigos, amigos, amores a parte.
E AGORA?
Agora, se aconteceu esse foguinho a mais, a vontade de dar uma beijoca, o negócio é pesar. Se for possível tolerar, aguardar um pouquinho, ver mesmo se é irresistível ou se é foguinho na palha, espere. Porque é mesmo um movimento arriscadíssimo, feito pra dar errado.
Tenho um bom amigo, o Feijão. E o Feijão, quando esfumaça seu lindo mecanismo cerebral, sempre sai com uma sabedoria. Daí, ele diz coisas como: “namorada é um amigo que você não come”.
A frase não faz muito sentido, eu sei. E é mais piada que verdade, mas no que ela tem de verdade, contém mundos e fundos sobre o amor. Que a verdade é essa mesma: ah, quantos casais por aí mendigando por um pouquinho de suor na cama, de leveza, de diversão, de menos cobrança, de risada, de amizade… A gente percorre um planeta de dores e improbabilidades, encontras uma pessoa no meio de sete bilhões de possibilidades e quando chega lá, esquece aonde ia e quer voltar ao meio da escada. Por que, né? Por que a gente é assim?
O fato é que a tensão sexual entre muitos amigos é mesmo maior do que a que existe entre muitíssimos casais. Acho uma pena. Talvez seja assim mesmo.
Não sei.
Mas tendo isso na cuca, minha cuca indica que sim, se você se apaixonou pelo amigo, vai com tudo. O risco é sair disso sem nada, sem amigo, sem namorado. Mas love machuca, e vida é escolha.
Um beijo não dado é um beijo não dado. Sou sempre a favor dos beijos dados, com responsabilidade, com carinho.
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