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por Mazu


Uma vez, um colega com que trabalhei há algum tempo atrás me perguntou: "Por que quase não existem grandes nomes femininos na literatura?". Logicamente, refutei e citei os dois ou três nomes que me surgiram de pronto na cabeça, mas ele continuou dizendo que eram realmente poucas se comparadas com o grande número de homens. Eu era bem verde naquela época, estava no primeiro ano do curso de Letras e, diante da realidade, respondi: sei lá, talvez seja porque as mulheres são mães, e ser mãe é um negócio que exige muito, né?

Depois disso, na universidade, levei o assunto a um amigo querido e super estudioso de literatura que me disse: acho que não tem a ver, a Cecília (Meireles) teve filhos e era incrível como poeta e como mãe. Pelo menos, é o que dizem. 

Com o Coletivo Feminista e um breve período de militância estudantil, percebi que a questão era outra. E, ontem, lendo uma matéria maravilhosa da Nina Rahe, na Bravo!, decidi retomar essa questão. Antes disso, preciso dizer que a matéria em questão, "Mulheres ainda são minoria na arte?", está imperdível. A Carta da Redação que é tipo um editorial também está bem legal, pelo menos, a parte que a Nina escreveu, a parte do Editor-Chefe, o "machista involuntário", está meio besta. Mas vale demais a leitura.



Vou começar pela conclusão, afinal, estamos aqui para subverter. As mulheres ainda são minoria na arte (e em vários outros espaços) porque o patriarcado nos mantém "na cozinha". Entre aspas porque não é necessariamente na cozinha, mas nos lugares em que nos é permitido existir, numa sociedade super patriarcal. De maneira, às vezes, velada, às vezes, escancarada, o patriarcado vai nos dizendo os lugares que, como mulheres, podemos ocupar ou não. A Bárbara escreveu um post bem legal sobre o espaço urbano, sobre ocupar espaço de maneira física, e sempre falamos dos espaços de liderança nas questões sociais, mas, pela data de hoje e seu significado, compensa retomar a discussão.

Existem várias maneiras de manter uma mulher na cozinha, na matéria da Nina, por exemplo, ela mostra como determinadas obras são depreciadas financeiramente e artisticamente, depois que se descobre que a artista era mulher, e também como as mulheres não participavam de determinados movimentos artísticos por questões sociais, por exemplo, não participavam de discussões sobre os rumos da arte, porque isso foi feito em bares à noite, no século XIX. No século XVI, as retratistas mulheres não puderam pintar nus femininos porque isso não era socialmente aceito e assim vai.

Sob meu ponto de vista, uma das maneiras mais eficazes de nos manter "na cozinha" é a maternidade. Existe todo um mito sobre a maternidade envolver sacrifício e ser um trabalho de tempo integral que é muito eficaz na manutenção da ordem patriarcal. Se os filhos estão em primeiro lugar, todo o resto segue em segundo. E, nesse todo resto, está toda a vida de uma mãe que vai passar a ser mãe e só.

Por favor, eu tenho amigas queridas que decidiram ser mães e estão felizes com isso. De verdade, não questiono a opção, questiono só esse mito do sacrifício. Penso que se vivêssemos em uma sociedade mais igual, o sacrifício de criar um filho não seria tão grande, seria dividido entre os envolvidos. E mães poderiam ser outra coisa além de mães. 

Aqui em Brasília, tem uma propaganda de uma academia que me irrita a vida inteira! Ela mostra pessoas saradíssimas que não tinham tempo de malhar, mas agora têm porque a academia é 24 h de certo. Mas a questão é, na foto dos homens, colocam a profissão, nas fotos das mulheres, só colocam que ela é mãe e de quantos filhos. Sério, será que elas não são nada além disso?

Um monte de gente vai dizer, minha mãe é uma ótima profissional, ok, mas pode ter certeza que ela abriu mãe de uma porção de coisas para ser mãe e, talvez, ela nem seja a profissional que gostaria de ser, enquanto a maioria dos pais, dificilmente, mudam os planos por conta da paternidade. Que fique claro que este post trata da questão de maneira geral, este ou aquele caso isolado não tem como analisar.




Também vai ter quem diga "existem mães que abandonam seus filhos, existem pais que criam filhos sozinhos". Claro que existem! Só que, na minha vida, conheci apenas um. Em contrapartida, o número de mulheres que criam filhos sozinhas ou com uma participação inexpressiva dos pais é bem maior. E quando um pai vai embora ou trabalha demais ou vive sua vida, ele escuta um "você devia dar mais atenção pros seus filhos" ou, no caso de abandono, um "canalha", no máximo. Já as mulheres que abandonam filhos são a própria personificação do capeta, né? Onde já se viu? Só para constar, não acho que ninguém deve deixar os filhos, mas quem sou eu ou quem somos nós para julgar?

Estou com 31 e sou casada há um ano e meio, a pressão familiar sobre filhos vira e mexe aparece. Eu sobrevivo, ignoro, sigo a vida. Mas ser ou não ser mãe é, para a minha existência, uma das questões mais complicadas. Eu até queria ser, mas eu também queria passar em um concurso público, escrever uma estória e ter a minha vida, militar e tals. A impressão que a sociedade em que vivo me dá é que se eu decidir ser mãe, todo o resto vai ficar de lado. Outra impressão que essa mesma sociedade me dá é que se eu não for mãe ou não for mãe como se julga adequado, sou uma pessoa ruim e egoísta. Vai vendo o dilema. 

A decisão para qual me inclino, cada vez mais, é de não ser. Talvez se eu vivesse em uma sociedade em que ser mãe significasse o mesmo que ser pai, eu seria. Talvez se eu vivesse em uma sociedade em que casais em união homoafetiva tivessem o mesmo direito de ser mãe/pai que eu tenho, eu seria. No mais, me desanima muito pensar na possibilidade.

Bom, é isso. Feliz dia das mães ou feliz dia do sacrifício para as compas que optaram por isso. Talvez, o post tenha ficado um pouco pessoal demais. Mas penso que essa questão da maternidade transcende mesmo o pessoal e o social. Talvez a gente devesse mesmo homenagear as mães e pensar no que elas são, no que gostariam de ser, além de mães.



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