Leitores, hoje é coisa rápida, que eu sei que vocês deixaram a paciência nas brigas de família, nos problemas com o namorado, marido, nas bebidinha, nas alegrias, na farra.Tá tudo lá. Nada aqui.
Vou deixar aqui o texto do João que escreve na Revista Marie Claire.
Meninas, venho aprendendo toneladas nos últimos dias. O que dizer? Aliás, como dizer? Dizer que semana passada, vi Robert e Kristen num crepúsculo de amor, um crepúsculo todo trovoada. Mas semana passada é passado. Crepúsculo passou, a Kristen passou, o Rob passou, a inocência passou. Esta semana, meninas, esta semana é o futuro. E o futuro, eu descobri!, é um romance, é um horror e tem Cinquenta tons de cinza!
Oh yes, vamos mergulhar de cabeça nessa tissunâmica onda.
Minhas chefes me oferecem de presente o livro-sensação. “Cinquenta tons de cinza”. Elas me dão a coisa e dizem:
- João, fala tudo, não esconde nada. Promete? Tudo? Tuuudo?
Eu penso, eu folheio, eu respondo:
- Digo tudo, tuuudo, e até mais um pouco. Mas digo o quê?
- Diz pra gente se é assim! Se vocês funcionam assim! Se vocês homens gostam ou se assustam com uma virgem de mais de vinte anos?! Que tal, hein? Que tal essa pra começar?
Eu digo claro! Eu digo sim! Eu digo supimpa! Eu digo peraí.
Ah, meninas. Quanta coisa eu venho aprendendo, viu? Mas olha, já foram umas 200 páginas de 50 tons, e vou dizer: tá difícil, viu? Tá dureza! Aliás, não tá dureza. Tá é moleza. Que o livro é a coisa mais engraçada e sem sal que tem. Sério mesmo que é assim? Que o romance sobre um romance capaz de apimentar vida femininas é picante… feito um chantilly? Que coisa, hein…
Porque eu penso: no livro, a escritora E. L. James gasta uma centena de páginas antes de, enfim, deitar Anastásia debaixo do senhor Grey. E essa primeira centena de páginas vem forrada com um festival de monólogos, dúvidas e enrolação. Fosse a versão masculina desse romance, fosse um livro feito para esquentar a arara inferior dos meninos, poxa, quanta diferença!
Taí! Tive uma ideia! Antes de dizer o que acho, o que penso, o que vi na obra que vocês andam lendo, vou escrever o romance que vai esquentar as calças e braguilhas masculinas. Como se eu fosse um E. L. Jones. Pra que vocês entendem o nosso ritmo, o nosso funcionamento. Pra que vocês nos entendam. Vai se chamar “Dois tons de cinza – tesão, ousadia e preto no branco”.
E será curto. Quase um conto, um haicai, um romance de quinze páginas.Aliás, vou escrever o começo do romance agora, pra vocês, só pra vocês.
DOIS TONS DE CINZA – TESÃO, OUSADIA E PRETO NO BRANCO
Capítulo 1 – Ferro na Boneca
João Cinza conheceu Anastasia Ferreira numa noite de quarta. Noites de quarta! Noites de quarta são noites de futebol. Noites de cueca. Noites sagradas, noites de solidão. De cerveja e arrotinhos.
Ah, e que beleza! Que beleza uma noite de quarta. O coração batucando um samba enredo de alegrias. Noites de quarta. Sagradas. Tanto que – João pensou – um homem, quando se separa, entre a dor da saudade e a dor da solidão, abre nele um sorriso, um muro de dentes lindo e puro, uma imagem, um quadro, um pôster de alegrias, a volta da liberdade total. A infinda felicidade é uma noite de quarta na TV.João era um recém-solteiro. Vinha descontando a dor de estar só na academia, no futebol de segunda. Mas se naquela noite de quarta ele sentia um dolorido da pelada de segunda, e era mesmo um dolorido muscular, esse dolorido atingia o mais carinhoso dos músculos: o coração.Assim, na noite de quarta em que João conheceu Anastasia, João estava em casa, de cuecas, aboletado no sofá, todo esparramado, com o bumbum quase fora da almofada, seu corpo como uma tábua apoiada num espaldar. O controle da TV era todo uma farra. Apoiado no umbigo, ele, o controle, recebia chuvas de pequenos cristais de açúcar, caídos de uma nuvem de jujubas, as jujubas que ele despejava na boca aos punhados.Uma pequena e suficiente aglomeração de açucares, porém, acumulou ali no buraquinho que separava o sinal de mais e o sinal de menos no botão de volume. Quando João notou, a tela indicava o índice máximo de barulho, a sala era um inferno de gritos de torcida, cantos, locuções desesperadas, e João viu que aquilo era bom.
Ah, a cabeça de um homem recém-solteiro. É uma cabeça com tratamento acústico. Uma cabeça com trilha sonora própria. Ou não é sempre assim? Quando a gente sofre, quando a gente ri, em grandes momentos, a cabeça da gente sempre toca uma música. Ou será que só com João era assim? Grandes momentos, pra ele, vinham com trilha sonora. Na quarta à noite, diante daquele futebol e do máximo volume na TV, a cabeça do João era uma rave sapeca, cuja música ao contrário dos poperôs, surgia num um pagode festivo.
Assim, na noite em que João conheceu Anastasia, a televisão, uma tela de LED de 512 polegadas sintonizada na partida do União de Jaguatirica, o time de João, essa TV explodia o falante em urros de locutor.
O apartamento era uma final de Libertadores, um carnaval e uma guerra.
João, feliz, solteiro, invicto, vencedor, açucarado; o mundo pela frente, porque atrás de João, nada, nada, nada! E que beleza! Que beleza! Esse João via aquela partida, de cuecas, todo farelo de jujuba, no máximo volume, na máxima alegria, quando, meio sem querer, num engasgo do locutor, num raro silêncio vindo dos falantes, ouviu a campainha
João atendeu.
Era Anastasia.
De robe.
FIM DO PRIMEIRO CAPÍTULO
Ah, meninas aguardem os próximos capítulos. Aguardem! Acharam chato até aqui? Poxa, não era pra ser! Poxaaa. Mas vamos fazer essa troca: eu leio os 50 tons, vocês leem os meus 2 tons. Feito? É coisa simples. Palavra! Meu romance caberá em 15 páginas. Prometo um completo mergulho na psique e nos fundilhos masculinos. Vocês sairão lotadas de conhecimentos e surpresas. Como prévia, antecipo cenas dos próximos tomos.
Teremos ainda:
- uma orgia;
- duas orgias;
- uma invasão alienígena;
- uma explosão;
- gol de Pelé;
- outra orgia.
E toda uma promessa de tesão e ousadia.
Vem?
Até a próxima: Déia Fargnoli
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