-----> Este Blog já apareceu nestas emissoras <------

Cresci entre São Paulo e a pequena cidade do interior dos meus avós. E a despeito dos prazeres e das opções da cidade paulistana, meu lugar predileto na adolescência era naquela cidade pacata, pobre e pequena. Era a praça.


Numa cidade do interior sem muitas opções, a única tem lá sua parte boa. Para ir à praça não é preciso marcar hora. A praça não tem relógio e não te exige nada: documento, dinheiro, tempo de permanência. A praça não fecha.


A praça não fecha porque não abre. Estável. Tempo bom ou ruim. A praça se basta. Nunca marquei de ir à praça. No máximo, uma pergunta retórica: “Vai na praça hoje?”. Nunca obtive um não.


A praça é tão democrática que quando chove, chove e é isso. E é tão intensa que nada toma o lugar da praça: a sorveteria da esquina não abarrota quando chove. Assim como o bar e a lanchonete que ficam em frente não lucram mais com a falência da noite na praça.


Não que São Paulo não tenha praça. Tem. Mas não falo desta praça de cidade grande. Estática ao invés de estável. Imutável. Impessoal. Falo de praça com vida, praça de verdade, praça que marca encontro de gente, praça que se dispõe, praça de interior.


vargem-640x391

Essa é a minha praça, em Vargem-SP



Nesta minha praça eu ia todo sábado à noite. Era só chegar e procurar seu grupo. Se não havia nenhum amigo, tudo bem. A praça está lá para ser sentada. Encosta num banco, só mais um pouco e chega um papo furado, uma boa conversa, um novo amigo.


“Amigo”, aliás, falei por falar. Na praça não se tem amigo, não. Na praça todo mundo está junto, não se tem rótulo nem obrigação. Todo mundo se conhece, mas não precisa se cumprimentar. Praça é lugar de ir e não dizer tchau. Não precisa de oi, nem de vou já.


Não tem pauta, não tem desculpa. Ninguém vai à praça se não quiser conversar. Encontrar. Conhecer o amigo do amigo, o filho do prefeito, o moço da feira, a dona do bar.


Praça é hiato. É lugar de ir para conviver. De esperar a possibilidade do nada acontecer. É espaço que não restringe, sem área VIP nem catraca para entrar. Lugar que conecta quem nem tinha como se conectar.


Praça de interior é o lugar.


Sobre a série “Lugares”


Mais do que defender um retorno romântico ou a construção de locais específicos, a proposta desta série é descobrir realidades internas de cada lugar, lembrar processos de relação que talvez estejamos perdendo e imaginar como podemos incorporar essas qualidades em nossas relações atuais, aqui, aí, nos lugares que já habitamos.


No primeiro texto da série “lugares”, conto das particularidades das relações que se formam na praça de interior e descrevo alguns processos de relação que talvez estejamos esquecendo de cultivar.


* * *


Nota: esse texto foi originalmente publicado no blog do lugar.




por Isabella Ianelli





















Fonte: Praça de interior»

0 comentários

Como Conquistar um Homem