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Giovanna Tavares


Antes de cuidar de outras pessoas, mulheres precisam ter os próprios desejos respeitados para não responsabilizar as crianças por sentimentos de frustração e infelicidade

Pode ser no parquinho, na praça ou no fórum sobre maternidade das redes sociais. Basta presenciar uma conversa entre mães para ver que, hoje em dia, não basta apenas ter o filho e cuidar dele com muito amor, é preciso ser a melhor mãe do mundo. Aquela que abre mão dos próprios sonhos e vontades pelo bem-estar das crianças.


Mas até que ponto esse comportamento realmente beneficia os pequenos? Para a psicóloga e coordenadora terapêutica da Clínica Maia, Ana Cristina Fraia, os prejuízos de colocar os filhos em primeiro lugar são maiores do que os benefícios. Ainda que com a melhor das intenções, o desenvolvimento infantil é prejudicado.


“A criança vai crescer com uma noção de que ela é mais importante do que o mundo inteiro. Ela se acostuma a isso, já que mãe para de fazer tudo o que estava fazendo quando ela chama ou grita, pedindo alguma coisa. Na intenção de dar amor incondicional, os pais erram com o filho. Ele vai achar que o mundo precisa se comportar igual aos pais”, pontua Ana Cristina.


Criados como pequenos “reis” e “rainhas” em casa, eles perdem a oportunidade de aprender a lidar com o sentimento de frustração e amadurecer frente aos “nãos” que a vida dá, justa ou injustamente.


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“São crianças que precisam do prazer imediato, que todos os seus problemas sejam resolvidos na hora. E o mundo, infelizmente, não funciona do mesmo jeito”, reforça a psicóloga. Segundo ela, é fundamental avaliar a real necessidade da criança. Você precisa mesmo parar tudo o que está fazendo para atender às vontades dela? Será que é necessário passar tanto tempo com a criança?


Amor próprio


A fonoaudióloga Carolina Sepeda precisou enfrentar uma depressão pós-parto para compreender a importância de respeitar as próprias vontades. Depois que o filho Bento, de quatro anos, nasceu, Carolina não conseguia alinhar as próprias expectativas em relação à gravidez com o que a sociedade julgava como a “mãe ideal”.


“Quase não tive rejeição a ele, mas não gostava de amamentar. Eu me sentia triste, não tinha vontade de levantar da cama. Achava que a minha vida tinha acabado mesmo, e minha terapeuta dizia que era porque eu não seguia os meus instintos. Foi quando eu percebi que precisava me cuidar, senão não conseguiria cuidar do meu filho”, lembra Carolina.


Depois de quase três anos e oito meses de terapia, ela reconhece que os filhos não podem ser a única preocupação na vida das mulheres que se tornam mães. “Eu não poderia largar o meu emprego de maneira nenhuma para me dedicar a ele. E se eu não pensar em mim, quem vai pensar? Eu me tornei uma pessoa extremamente amargurada, era impossível criar uma criança daquele jeito”, confessa a fonoaudióloga.


A modelo Gisele Bundchen deu uma declaração parecida há algumas semanas, para a revista “The Sunday Times Style”: “Sabe quando dizem no avião que você deve colocar a sua máscara de oxigênio primeiro, para então colocar no seu filho? Então, acredito que vale o mesmo para as mães, que devem cuidar de si em primeiro lugar”, declarou ela.


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“A gente precisa ter em mente essa instrução do avião, mesmo. Para você cuidar de uma pessoa, você tem que estar bem, com as necessidades suprimidas, um emocional equilibrado. Não é saudável colocar ninguém, seja o marido ou os filhos, a não ser você mesmo, em primeiro lugar. Parece egoísmo, mas é o melhor que você pode fazer pela sua família”, explica Marcia Orsi, terapeuta especialista em relações familiares.


Dispensável


A relação com o cônjuge também merece atenção. Ter um filho é algo que muda a vida, absolutamente. Mas não é o único amor que as mulheres são capazes de sentir, em essência. Do mesmo jeito que as crianças precisam de um tempo a sós com a mãe, é importante cultivar o romance e a intimidade com o parceiro. Por que é tão condenável assim que uma mãe passe a manhã com os filhos e, à noite, opte por fazer um programa romântico com o marido?


“A boa mãe não é apenas aquela que passa o dia todo com a criança. Ter filhos é uma responsabilidade gigantesca, é uma escolha para a vida inteira. Dá para se cuidar, ser feliz, ter outras atividades em paralelo e divertir-se com os filhos também, sem precisar esquecer a mulher que você é”, acredita Ana Cristina Fraia.


Para a especialista, “mãe boa é aquela que se torna dispensável com o passar dos anos”. A frase é dolorida para a maioria das mulheres, mas, para Ana Cristina, revela um dos melhores feitos que qualquer mãe pode fazer pelo próprio filho: torná-lo autônomo e independente.


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Fonte: Prioridade da mãe deve ser ela mesma e não os filhos, apontam especialistas»

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