Luiz Alberto Hanns
Terapeuta e colunista do Delas dá dicas de como entrar em consenso e aponta quando é hora de terminar a relação
Muito do prazer de um convívio a dois está também fora da cama. Afinal, a maior parte do tempo vocês convivem longe dela. E aí fala alto o prazer de estar junto com alguém que tem a ver com suas afinidades de gosto e de interesses.
Paulo e Mariana não têm o mesmo gosto. Paulo gosta de montanhismo e ecoturismo. Mariana prefere um confortável hotel de praia. Ele adora tomar cerveja numa grande roda de amigos, ela gosta de um vinho branco na companhia de um ou dois casais. Ele gosta de picanha, ela de sushi. Ele assiste a comédias e filmes de ação, ela prefere filmes de arte e teatro. Em decoração, ela é clean, e ele gosta do rústico. A música dela é jazz e clássica; a dele, rock e country. Ela é sedentária, ele joga squash e basquete. A lista de diferenças de gosto é interminável. É difícil descobrir o que eles têm em comum.
Claro que se o resto da equação de casamento for bom, e Paulo e Mariana forem pessoas flexíveis, um cede daqui e o outro dali: uma sala clean e o quarto de dormir rústico, um fim de semana na praia, outro na montanha, um vez vinho branco, na outra, cerveja. Ou eles decidem buscar uma terceira alternativa: decoração clássica, fim-de-semana num hotel fazenda na represa, e um restaurante de comida grega. Isto tem tudo para dar certo se forem só alguns itens. Mas se eles tiverem realmente gostos muito diferentes estarão alternando o prazer de cada um com o desprazer do outro, ou viverão num meio-termo chocho.
Mas mais importante do que gostos em comum são as afinidades de interesse!
Paulo e Mariana não coincidem nos interesses. Mariana se interessa por colecionar selos e ele por esportes radicais, ela adora falar de arquitetura e decoração e ele de futebol e economia, ela se interessa por psicologia e ele por informática? Na verdade, embora tentem, um não tem o mínimo interesse no mundo do outro.
Se forem muitos tópicos, será difícil até curtirem um jantar a dois. A conversa não evolui, ela escuta com um sorriso amarelo a história dele sobre um novo aplicativo para logística de controle de armazéns, e ele mal vai além de um “hum-hum”, quando ela conta de um apartamento lindo que conheceu ou de uma nova pesquisa sobre depressão. De música, viagens e cinema também não sai papo. Ao final, para não ficarem sem assuntos em comum, os dois resolvem falar um pouco dos filhos, falar mal dos amigos, e depois do jantar tentam uma noite mais “quente” num motel. Ambos estão se esforçando, mas o fato é que não vibram e não se entusiasmam juntos pelas mesmas coisas.
Vibrando juntos fora da cama
Você e seu parceiro vibrarem juntos fora da cama tem tudo a ver com afinidades de gosto e de interesses. Se não tiverem isto, viverão vidas paralelas. Digamos que você, como Mariana, se entusiasme ao conversar com outras mulheres e homens que se interessam por seus temas e têm gostos parecidos. Inclusive pelo professor de jazz, que é tão charmoso e, veja só, também adora sushi e prefere decoração clean!
E seu parceiro, tal como Paulo, percebe que fica feliz toda vez que encontra aquela garota linda que participa do grupo de montanhismo dele. Ela ainda por cima ela curte música country e se diverte com os amigos nas rodas de cerveja!
Talvez você e seu parceiro se amem, tenham projetos de vida em comum, se deem bem na cama, mas muitas vezes sintam que não têm nada a ver um com o outro. Como cuidar disto?
Os interesses têm muito a ver com diferenças de gênero. Homens e mulheres têm alguns interesses que podem ser divergentes. Mas também o temperamento e a personalidade de cada um contam muito. E o que fazer então?
Até certo ponto muitos gostos e interesses podem ser desenvolvidos. Por exemplo, experimentar e aprender a gostar de vinho. Ou uma pessoa sedentária, com um parceiro esportista, pode aprender a praticar algum esporte, embora provavelmente não vire um fanático por atividade física.
Outros gostos, entretanto, não podem ser desenvolvidos. Por exemplo, se você já gosta de vinho, mas só aprecia os brancos e os tintos lhe fazem mal, não há como passar a gostar de vinho tinto. Ou se você não tem raciocínio matemático e técnico, será difícil interessar-se por software para controle de logística em armazéns.
Mas a maioria dos casais, diferente de Paulo e Mariana, tem ao menos alguns interesses e gostos em comum. Deve também ser o caso de vocês. De qualquer modo aí vão quatro dicas, talvez alguma ajude você e o seu parceiro:
1. Cultive bastante os interesses e gostos em comum. Quem sabe ambos adorem receber amigos, viajar e assistir a shows de rock
2. Tente entrar no mundo do parceiro e com boa vontade se esforçar para aprender algo o universo dele.
3. Se não conseguir “curtir” aquilo que seu parceiro gosta, ao menos não desfaça, não zombe e não despreze as escolhas dele.
“Deus me livre, que horror estes filmes que você escolhe, só tem sangue! Que ridícula aquela roda de homens bêbados tomando cerveja!”
Tente alternar as atividades que cada um aprecia. Que tal num fim de semana você escolhe o filme e outro ele? E acompanhe de boa vontade o parceiro no dia dele, nada de ir de cara amarrada e dizer “Ok, não tem jeito mesmo, eu te acompanho neste tipo de filme que você adora”. Vá de boa vontade e tente achar algo de positivo, tornando o programa agradável. “Puxa, este cinema é supergostoso, e os atores do filme foram ótimos!”
4. Tente criar espaços pessoais que o outro apoia e acompanha. “Ok, você vai ver este filme e eu vou na sala de cinema ao lado e vejo o outro. Depois vamos jantar juntos”. Ou que tal “Neste fim de semana você viaja para a pescaria com os amigos e eu ajudo a preparar malas, levo para o aeroporto e busco você no domingo. E você vai me mandando por mensagem os vídeos dos momentos mais legais”. E, de fato, na volta do parceiro você se interessa por saber como foi para ele e sobre o que ele mais gostou na viagem.
Portanto, você pode abdicar de algumas preferências e negociar outras. Mas isso só funciona se a negociação for ocasional, do contrário a vida de casal pode se transformar numa desgastante negociação, numa grande sopa morna de meios-termos consensuais que no fim não satisfazem a ninguém.
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Fonte: Vocês e seu parceiro têm os mesmos gostos e interesses?»
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