Giovanna Tavares
Aplicativo desenvolvido para compartilhar segredos anonimamente virou, na prática, um depositório de ofensas, intolerância e bullying
E se existisse um canal para dar vazão àquilo que ninguém consegue falar em público? Vale qualquer coisa: fraquezas, segredos, maldades e, claro, veneno. Você não ficaria tentado a dar ao menos uma olhadinha? Pois essa é premissa do aplicativo para smartphones Secret, que recém chegou ao País e já está causando polêmica e até disputas judiciais.
O app funciona de um jeito semelhante ao Instagram, só que com a vantagem do anonimato. É possível se cadastrar por um e-mail específico ou direto pelo Facebook, e postar frases e comentários ilustrados sem que ninguém saiba a identidade do autor da postagem.
Tudo o que o aplicativo informa é se o autor do post faz parte do seu círculo de amigos ou é “amigo de um amigo” seu. Na Google Play Store, a loja virtual dos aplicativos para Android, o Secret já tem mais de um milhão de downloads.
Veja alguns exemplos de confissões publicadas anonimamente no Secret:
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
Exemplo do uso correto do aplicativo Secret
Foto: Reprodução / Secret
“Existe uma curiosidade muito grande por tudo o que é oculto e faz parte da vida alheia. Muitas pessoas instalam entram nessa onda por curiosidade, para saber sobre a vida dos outros sem se expor diretamente. Também é a oportunidade para falar sobre determinados assuntos que não são aceitos socialmente”, pontua Luciana Ruffo, psicóloga do Núcleo de Pesquisa em Psicologia e Informática (NPPI) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Gentileza
A proposta original dos criadores David Byttow e Chrys Bader-Wechseler, ex-funcionários do Google, era a de criar uma ferramenta em que as pessoas se sentissem confortáveis para compartilhar e emitir opiniões, sem ter uma identidade associada aos comentários. Em teoria, o Secret poderia até funcionar como um grupo de ajuda anônimo. O próprio campo de comentários estimula esse comportamento mais amistoso entre as pessoas, com a frase “Escreva algo gentil”.
No Brasil, entretanto, o uso do aplicativo vem supreendendo especialistas e usuários de redes sociais por reunir frases bobas e sem sentido, comentários grosseiros, preconceituosos e difamatórios. O consultor de marketing e produtor de eventos Bruno de Freitas, 25, decidiu entrar na Justiça para tentar tirar o aplicativo do ar no Brasil depois da publicação de fotos íntimas e comentários ofensivos associados ao nome dele.
Outros brasileiros que foram alvo de algum tipo de constrangimento, como Bruno, adotaram a mesma postura. As queixas são variadas: bullying virtual, fotos íntimas publicadas, acusações e difamações. Declarações preconceituosas também foram denunciadas, como racismo, machismo e homofobia. Nada de gentileza, como sugere a premissa inicial do Secret.
“Se ele funcionasse com esse objetivo, seria muito mais interessante. O que acaba desvirtuando uma rede social desse tipo são as pessoas sem bom-senso, que utilizam o app de um jeito errado, para ofender os outros. Se o Secret tivesse uma regulamentação ou moderação, talvez o problema fosse resolvido”, opina a psicóloga e psicoterapeuta Andreia Calçada. Para ela, uma saída seria o banimento de usuários que postam conteúdo ofensivo ou constrangedor, sem chance de voltar a usar o aplicativo.
Diferenças culturais
Nos Estados Unidos, país de origem do aplicativo, a experiência não foi tão agressiva como no Brasil. Tanta diferença, afirmam os especialistas, é reflexo das distintas culturas das duas sociedades em questão.
“Nos EUA, a ideia de que todo ato tem uma consequência é muito mais forte do que aqui no Brasil. Até as punições cabíveis tomam menos tempo lá do que aqui, para serem efetivadas. A noção do que é apropriado ou não ainda está em construção no nosso país. Muitas vezes, só agimos por medo da consequência, não pela consciência do certo e do errado”, diz a psicóloga Rosana Machado.
Sem culpados
O número de usuários do Secret, que cresce dia após dia, é proporcional às críticas que o aplicativo já recebeu desde o lançamento, em janeiro deste ano. Muitos culpam o aplicativo pelos casos de cyberbullying e constrangimento que já foram denunciados.
O mesmo já aconteceu com a Internet, como se os instrumentos digitais tivessem total controle sobre os usuários. Fato é que o Secret não passa de uma ferramenta de relacionamento, com possibilidades infinitas – para o bem e para o mal.
Prova disso são as diferentes experiências ao redor do mundo. Há publicações engraçadas, positivas, reflexivas, mas também há o outro lado. Mais do que encontrar um culpado, o caminho agora, apontam os especialistas, é compreender o que o aplicativo diz sobre as relações sociais entre as pessoas.
“Tem quem use essa ferramenta de um jeito legal, com autocrítica, respeito e preservação. A questão não é dizer se o Secret é bom ou ruim. O que está explícito é a qualidade das relações entre os amigos e a finalidade delas. Infelizmente, é algo que pode trazer à tona o lado cruel do ser humano”, conclui Rosana Machado.
Fonte: Segredos, intrigas e difamação: os brasileiros desvirtuaram o Secret?»
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