The New York Times
Preservada, residência de 72,5 m² passou por poucas mudanças desde 1871
Com a fachada alegre de madeira pintada de cinza-amarelado e cerquinha branca, a pequena casa em Chicago parece perdida em meio aos prédios de pedra imponentes e os sobrados que a cercam, como se tivesse vindo de um outro tempo e lugar. "Que graça!" geralmente exclamam aqueles que passam por ali, mesmo se estiverem sozinhos. Tem alguma coisa nela que faz as pessoas pararem e sorrirem.
A casinha histórica comprada por David Hawkanson, em Chicago, ilhada entre construções modernas
Foto: Jane Beiles/The New York Times
Uma refeorma feita em 2002 criou uma sala de estar aberta e fundiu os dois quartos minúsculos
Foto: Jane Beiles/The New York Times
Uma cozinha foi adicionada à casa em 1900 e hoje se encontra no meio da sala
Foto: Jane Beiles/The New York Times
Em 1930 foram adicionados o banheiro e a garagem
Foto: Jane Beiles/The New York Times
Durante os descansos na varanda da casa, não é difícil David Hawkanson ter de parar a leitura para dar atenção a turistas curiosos
Foto: Jane Beiles/The New York Times
'Quando se compra uma propriedade histórica, não é o dono e sim o administrador', conclui David
Foto: Jane Beiles/The New York Times
Assim, não foi surpresa que David Hawkanson, diretor executivo da Companhia de Teatro Steppenwolf, soubesse de cara de que casa sua corretora estava falando quando sugeriu o chalezinho de preço relativamente acessível. A ideia de morar em um lugar menor e possuir menos coisas o deixou tão empolgado que comprou o imóvel de 72,5 m² naquela mesma tarde, mesmo sem saber muito sobre a casa e suas origens. Principalmente o alcance de sua fama, o que fez com que morar lá fosse como "viver em um aquário".
Embora ela seja uma raridade hoje, em 1871, milhares de outras casas iguaizinhas a esta foram construídas após um grande incêndio que ardeu durante dois dias, em outubro daquele ano, deixando 300 mortos e um terço dos 300 mil moradores da cidade desabrigados.
Conhecidos como auxílio-incêndio, ou abrigos, os chalés tinham duas opções de tamanho: o pequeno (US$ 100) e o minúsculo (US$ 75), em kits que continham tábuas, janelas, uma porta, uma chaminé e uma divisão flexível que oferecia um mínimo de privacidade. O modelo de 3,7 m x 4,9 m era para as famílias de até três pessoas; o de 4,9 m x 6,1 m, para os demais.
A ideia por trás dos kits, que foram distribuídos quase todos de graça era ajudar a cidade a se reerguer o mais rápido possível. Em meados de novembro, cerca de 5.200 já tinham sido montados; até maio do ano seguinte, outros três mil ficaram prontos. Não demorou muito, porém, para perceberem que estavam repetindo o erro e um novo código proibiu a construção de casas de madeira no centro.
Historiadores e defensores da preservação do bairro acreditam que várias delas ainda estejam de pé, embora a maioria tenha sido modificada por reformas e se tornado irreconhecível com o tempo. A de Hawkanson e uma outra, a poucas quadras de distância, são as duas únicas que ainda se parecem remotamente com o que eram nos anos subsequentes ao incêndio. "E a do David é, sem dúvida, a melhor", afirma Diane Gonzalez, vizinha e guia de passeios arquitetônicos.
Mesmo assim, várias mudanças foram feitas ao longo dos anos. Uma cozinha foi adicionada em 1900; o banheiro e a garagem, em 1930 e a janela francesa, na metade do século. Jens Bogehegn, que vendeu a propriedade a Hawkanson, no início de 2007, reformou tudo por dentro em 2002, criando uma sala de estar aberta e fundindo os dois quartos minúsculos.
Embora Hawkanson tenha sido alertado sobre o fato, um belo dia, menos de um ano depois de ter se mudado, saiu de pijama para pegar o jornal de manhã e deu de cara com um guia à sua porta contando a história da "casinha engraçadinha". E a concluiu com uma observação dramática sobre o fato de o "kit barraco" ter custado apenas US$100 em material tantos anos atrás. Para completar, talvez inspirado pela aparência de Hawkanson, acrescentou: "E esse cara acabou de comprá-la por algumas centenas de milhares de dólares!".
Esse foi o "batismo de fogo" de Hawkanson às excursões que passam pela casa nos momentos mais inoportunos ‒ e, às vezes, dentro dela. Ele conta que uma vez estava mexendo no jardim de trás, entrou para pegar alguma coisa e deu de cara com uma família de turistas sentada à mesa de jantar fazendo uma boquinha. Como tinha deixado a porta aberta, o pessoal achou que a casa era monumento público.
E ele até conseguiu cultivar uma atitude filosófica em relação à presença constante de turistas. "Você chega à conclusão de que, quando compra uma propriedade como essa, não é o dono e sim o administrador".
Fonte: Reforma moderniza casa histórica em Chicago»
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