Eu tiro fotos lindas no Instagram. Juro.
Pego um amontoado de prédios, uns raios de sol por trás e faço disso uma imagem gostosa de olhar. Méritos da ferramenta que me dá ótimas opções de featrings que ajustam as cores, as sombras, desenham melhor as silhuetas, avermelham o laranja, alaranjam os vermelhos.
É uma loucura. Recorto o ponto que acho mais interessante, aumento brilho e saturação, disparo a nitidez. Fica uma beleza de ver. Me sinto um fotógrafo flaneur a imortalizar pequenos cantos deliciosos da megalópole. Me sinto capaz.
As pessoas me elogiam pela capacidade de sacar esse tipo de foto. Apertam lá os botões de seus aplicativos como que para validar meu recente talento. Sou bom em tirar fotografias com meu Instagram. Imagens em preto e branco evidenciando a selva de pedra, o asfalto, a fumaça, o inverno. Fica poético, um pouco de doçura no áspero do cimento. ganho likes com minhas impressões, começo a me sentir um fotógrafo pronto para pensar uma exposição, contratar alguém com conheicmentos para organizar uma vernisage atraente, pra frentex, sabe?
São esses os efeitos do Instagram. Faz eu me sentir o que não sou e achar que tenho poderes que nunca tive.
Me lembra aqueles tempos de solteito, quando eu era enganado e dissimulado com as meninas que paquerava.
Elas me falavam que eu estava bonito, davam like em minhas piadas de humor fino no Facebook, diziam que eu era capaz de fazer qualquer mulher feliz nesse mundo. Eu ficava feliz, me sentia um baita sedutor. Acreditava, nesses pequenos arroubos de sentimentalidades, que era capaz de ganhar qualquer gatinha no bar.
Levava alguma delas para o boteco, trocava títulos de livros, achismos sobre o cinema atual, batia todos os papos gostosos que alguém pode bater na mesa da birosca. No momento exato, eu agia.
“Calma, Jader, não é bem assim.”
Instagram, aquela vadia.
Fonte: O Instagram e meus amores»
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