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Carolina Garcia


Com autoestima restaurada pela alfabetização, Tetê Brandolim pinta telas e dá nova função aos tons vivos do tecido. "Ela descobriu que é uma artista", conta a filha

Traços, contornos e recortes ganharam uma nova dimensão para Therezinha Brandolim, a Tetê, hoje com 83 anos, após o seu longo processo de alfabetização. Erroneamente diagnosticada por antigos professores como vítima de um bloqueio de aprendizado, ela nunca desistiu do seu sonho: aprender a ler. Com o apoio da filha, uma nova educadora e a sonoridade das palavras, ela conseguiu compreender a própria arte, expressar sentimentos guardados havia décadas e ensinar que idade não é um obstáculo. “Aos 82 anos ela descobriu que é uma artista”, conta orgulhosa a filha Maria Zulmira de Souza, de 49.


Therezinha contou para a filha e professora que não queria morrer sem saber ler e escrever


Therezinha contou para a filha e professora que não queria morrer sem saber ler e escrever


Foto: Arquivo pessoal


Quadro 'Vírus da Alegria', de Tetê Brandolim; cada peça recebe em média 200 flores de chita


Quadro 'Vírus da Alegria', de Tetê Brandolim; cada peça recebe em média 200 flores de chita


Foto: Arquivo pessoal


Therezinha leva pelos menos dois dias para completar todo o processo. Na foto, obra 'Colar Azul'


Therezinha leva pelos menos dois dias para completar todo o processo. Na foto, obra 'Colar Azul'


Foto: Arquivo pessoal


Peça 'Bouquet Colorido'. O sonho da artista é produzir grandes painéis, mas não tem espaço em casa


Peça 'Bouquet Colorido'. O sonho da artista é produzir grandes painéis, mas não tem espaço em casa


Foto: Arquivo pessoal


Tetê e a professora Jany durante a confecção dos cartões de Páscoa, no ano passado


Tetê e a professora Jany durante a confecção dos cartões de Páscoa, no ano passado


Foto: Arquivo pessoal


O processo: após recortar as flores, Tetê posiciona o tecido de forma aleatória


O processo: após recortar as flores, Tetê posiciona o tecido de forma aleatória


Foto: Arquivo pessoal


Jany foi presentada com um quadro. 'Exibo na sala da minha casa', diz a professora


Jany foi presentada com um quadro. 'Exibo na sala da minha casa', diz a professora


Foto: Arquivo pessoal


Therezinha e sua professora Jany


Therezinha e sua professora Jany


Foto: Arquivo pessoal


Tetê ganhou uma formatura simbólica e recebeu um diploma no final do ano passado


Tetê ganhou uma formatura simbólica e recebeu um diploma no final do ano passado


Foto: Arquivo pessoal


Painel com flores de chita em formato de coração


Painel com flores de chita em formato de coração


Foto: Arquivo pessoal


Além dos quadros de chita, a artista produz ventarolas coloridas e diferentes telas


Além dos quadros de chita, a artista produz ventarolas coloridas e diferentes telas


Foto: Arquivo pessoal


Tela 'Casinha Abandonada'


Tela 'Casinha Abandonada'


Foto: Arquivo pessoal


A artista tinha vergonha dos seus desenhos pois não pareciam 'reais'; na foto, quadro 'As meninas'


A artista tinha vergonha dos seus desenhos pois não pareciam 'reais'; na foto, quadro 'As meninas'


Foto: Arquivo pessoal


Obra 'Entre sombrinhas e baianas'


Obra 'Entre sombrinhas e baianas'


Foto: Arquivo pessoal


Peça 'Anta florida', que combina as técnicas de colagem e pintura


Peça 'Anta florida', que combina as técnicas de colagem e pintura


Foto: Arquivo pessoal




Nascida e criada em Monte Azul Paulista, a 420 km de São Paulo, Therezinha foi escolhida entre nove irmãos para trocar os estudos pelo trabalho precoce. E, assim, Tetê teria como prioridade casar e criar os próprios filhos. Após a morte do marido, ela voltaria a buscar em salas de aula, em programas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) de Ribeirão Preto (SP), a chance de aprender a ler e a escrever. No entanto, após dez anos de estudos e sem significativos avanços, as turmas foram encerradas.


A solução então foi passar uma temporada em São Paulo na casa da filha para ter aulas particulares com Jany Dilourdes Nascimento, professora do Instituto Paulo Freire e especializada em alfabetização. Durante os encontros, que ocorriam três vezes por semana, Jany percebeu a sensibilidade de Tetê para a arte. “Ela rabiscava em papel de pão ou em qualquer papel que poderia encontrar, mas depois escondia os desenhos. E dizia ainda que não sabia desenhar”, conta a professora. Muitos esboços foram encontrados embaixo de tapetes, colchão e no lixo da casa. “Ela não aceitava os personagens imperfeitos”.


“A rainha da chita”


Já com maior domínio da escrita, a experiente aluna realizou outro desejo na última Páscoa: enviar cartões com frases de esperança aos familiares em diferentes cidades do País. Mas não qualquer cartão. "Eu queria dar um toque de carinho. Jany então trouxe a chita, não conhecia o tecido ainda”, explica Tetê. As duas então passaram a tarde recortando flores do tecido e confeccionando os cartões. Para a professora, cada cartão deveria receber uma flor, mas Tetê queria centenas.


A partir daquele dia, a idosa passaria a maior parte do seu dia recortando a chita. “Eram flores por todos os lados da casa. Até que ela criou os quadros e se descobriu ali. Eu a chamo de rainha da chita”, conta Maria aos risos. Hoje, as diferentes composições da artista Tetê são vendidas e ganharam força após a divulgação de um perfil no Facebook. Os painéis de 80 x 1 chegam a receber 200 flores, segundo Tetê, e são vendidos a R$ 500.


Ao Delas, a idosa conta que rejeita o título de artista. “Eu fico muito sem graça, não sou tudo isso. Foi um dom que apareceu”, explica. Mas, a lista de encomendas diz o contrário. Muitos esperam uma oportunidade para exibir as telas e quadros de Tetê Brandolim. Para Maria e Jany, o dom não surgiu com o acaso e a alfabetização foi fundamental. “Ter tido acesso à escrita permitiu que ela tivesse segurança para se expressar”, diz a filha.


A professora explica ainda que com os quadros Tetê teve a oportunidade de desmistificar a ideia de que o idoso não aprende. “Ela provou que a vontade de aprender estava sempre ali. A arte que Tetê escondia, hoje ela exibe porque teve sua autoestima restaurada. Não se sente mais uma analfabeta”, explica Jany.


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Fonte: Alfabetizada aos 82 anos, idosa descobriu a arte entre recortes de chita»

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