Estava na fila de uma lotérica, quando uma senhora falou em voz alta: "não quero falar meu número de telefone em voz alta, pois pode haver ladrões por perto". Imediatamente ouvi algumas pessoas bufando com raiva ou ironia, e a senhora continuou: "nunca se sabe, né? Melhor tomar cuidado...". Então alguém retrucou: "minha senhora, aqui não tem ladrão não". Outra pessoa concordou e a discussão estava formada.
Impressionante o clima tenso e agressivo que rapidamente tomou conta do local. As pessoas olhavam para mim, como que esperando perceber de que lado tomaria partido. Resignei-me a sorrir sem graça, sem querer colocar mais lenha na fogueira. Porém, ficou claro para mim que todos tinham e não tinham razão ao mesmo tempo. Percebi que a senhora estava falando com o objetivo consciente de alertar as pessoas ali presentes de um possível perigo, mas todos levaram aquilo para o pessoal e tomaram as observações feitas como uma ofensa.
Essa situação revela a energia por trás de todo evento deste tipo: o medo. A senhora falou com base no medo de ser assaltada, mas as pessoas interpretaram sua fala com base no medo de serem julgadas, de se sentirem menores. A boa intenção da senhora de ajudar as pessoas apenas serviu de disfarce e justificativa para ela mesma para colocar seu medo pra fora. Afinal, ela poderia ter dito a mesma coisa e ter gerado uma outra reação, até mesmo de concordância e gratidão dos outros, se não fosse pela qualidade da energia e intenção inconsciente de medo que ela expos.
As pessoas, por sua vez, poderiam ter percebido a fala da senhora como um medo particular dela e não se deixarem abalar pela sua frase. No entanto, receberam as palavras a partir da dor da rejeição e do julgamento, também sem perceberem que se entregavam aos seus próprios medos neste momento. Com isso, apenas alimentaram o que já havia de ruim naquela atmosfera de pensamentos e sentimentos. Entendo que o tom que foi dado às palavras pode ter soado um tanto agressivo, mas não era direcionado a alguém. O "eu medroso" e inconsciente da senhora jogou uma isca. E o "eu de dor" inconsciente das pessoas a sua volta mordeu direitinho.
Simplesmente paguei minha conta e deixei a lotérica ainda me sentindo um pouco estranha. Fiz minhas práticas de desconectar daquela energia e limpar o peso, e logo me senti melhor. Mas se não estivesse atenta, poderia "carregar" aquela situação comigo para o resto do dia, mesmo sem nem ter tomado partido ou participado ativamente dela.
DO QUE VOCÊ SE ALIMENTA?
Geralmente não percebemos com total consciência o que falamos e como reagimos ao mundo lá fora. Com isso, podemos estar alimentando justamente aquilo que mais reclamamos: violência, falta de consideração, injustiça, angústia, entre outros."Geralmente não percebemos com total consciência o que falamos e como reagimos ao mundo lá fora. Com isso, podemos estar alimentando justamente aquilo que mais reclamamos: violência, falta de consideração, injustiça, angústia, entre outros."
A parte positiva disso tudo é que podemos mudar as energias de nossa rotina, simplesmente escolhendo não morder as iscas de medo que nos são jogadas ao longo do dia. Nas primeiras vezes que tentamos, pode ser que o sangue suba e que a gente não consiga conter a irritação (e às vezes até o palavrão) ao levar uma fechada no trânsito ou ser mal tratado por alguém. Mas se tivermos a boa vontade de somente pensar que temos outra escolha naquele momento, com o tempo nossos impulsos talvez não sejam mais tão automáticos e agressivos. Com isso, deixamos de gastar nossa energia com sentimentos negativos e conquistamos mais harmonia em nosso dia a dia.
O caminho de saída dos sentimentos negativos e a porta de entrada da harmonia estão a nossa disposição o tempo todo, ainda que muitas vezes a gente não perceba isso. Então que tal ficarmos mais atentos e fazermos escolhas com mais consciência? Convido você a prestar atenção (mesmo!) durante uma semana, ou um dia apenas, que seja, e evitar as iscas negativas, percebendo como você se sente ao final do período. Você percebe alguma diferença?
Que você encontre o seu próprio caminho de harmonia!
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