por Tággidi Ribeiro
Nesta semana a Comissão de Transportes aprovou a separação de vagões para as mulheres, em ônibus e metrôs de São Paulo. Não consigo pensar de que ângulo pode ser defensável essa proposta, que em breve será apreciada pela Assembleia Legislativa do estado.
As mulheres são 58% dxs usuárixs do metrô, mas certamente não terão 60% dos vagões a seu dispor. Se aprovada, além de não contemplar todas as mulheres, a proposta deixará ainda mais vulneráveis as tantas que não conseguirão lugar nos vagões a elas reservados. Imaginem a brecha para culpar as mulheres por seus próprios abusos: 'mas se ela estava no vagão dos homens...'. Proposta retrógrada, me lembra de quando homens e mulheres não podiam estudar juntos na mesma escola, me lembra o mundo islâmico que tanto distingue espaços para os dois sexos, sem jamais resguardar de fato as mulheres porque a questão é cultural, definitivamente.
As mulheres de todas as idades são assediadas por homens comuns, que julgam ser o assédio um direito seu, que julgam ser prova de 'macheza' 'aproveitar-se' delas. E o poder público só reforça essa percepção quando não pune adequadamente esses indivíduos, quando ignora na escola a necessidade mais que urgente de disciplinas que abordem (violência de) gênero, quando não esclarece apropriadamente sua polícia acerca do trato com as vítimas, quando não incentiva por meio de campanhas a denúncia.
De uma perspectiva masculina, o que o poder público faz é apontar o dedo para todos os homens, como se fossem todos assediadores. Obviamente, se todos são suspeitos, fica dificílimo achar o culpado; se todos são culpados, não é possível punir alguém. Desde 2006 o Rio de Janeiro reserva vagões às mulheres, o que não fez diminuir o número de casos de assédio no transporte público. Na realidade, tanto o Rio quanto São Paulo viram as estatísticas de assédio e estupro saltarem - o que não sabemos é se há mais violência ou mais denúncias, fruto certamente mais da reação das mulheres que de esforços dos governos.
Tanto no Rio de Janeiro quanto na Índia, homens e mulheres disputam os vagões para mulheres. Essa guerra quem insufla são os governos. Em São Paulo, os vagões de metrôs e trens são disputados diariamente, sem distinção de sexo: fora a questão cultural, base que legitima a ação do assediador, o problema flagrante é a superlotação do transporte público, que praticamente zera a chance de defesa da mulher. Quem mesmo está cuidando de solucionar o problema da superlotação? De que ângulo mesmo a proposta do deputado Geraldo Vinholi do PDT é defensável?
Para mais reflexões, um post da Bárbara Falleiros (uma subvertida saudosa que logo volta!); um texto da Lola Aronovich e um do blog feminista da Carta Capital, por Nádia Lapa.
Educar homens e mulheres: o essencial. |
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