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Pode. Ele não deveria. Mas pode. Que a verdade, meninas, a verdade é que o Facebook, o Instagram, essas coisas todas, são tudo, menos o que a gente diz que elas são.
Meninas, meninas… Me deem as mãos e vamos todos dar um peixinho lindo no lindíssimo lago do clichê.

O LAGO DO CLICHÊ
A dúvida que encima este conjuntinho de parágrafos é a dúvida de uma leitora. Ela tem uma história. E a história é esta:
João, o que eu faço quando eu percebo que meu ex posta fotos das garotas com que ele tem ficado? Terminamos há poucos meses. Terminei porque o namoro esfriou. Fiquei e fico em dúvidas até hoje, mas acho que fiz o certo. Tentei cumprir uma fase de reclusão. Mantenho minha vida privada, privada. Mas ele não. É like em tudo que é post de garotas, é foto dele abraçando não sei quem… Queria saber se ele está certo, se ele tá fazendo isso pra me causar dor…? O que devo fazer, João?”
Olha, minha pequena, a verdade é uma tonelada de verdades.
Uma delas é que sim, ele pode e provavelmente tá fazendo justamente isto: esfregando na sua cara que a sua rejeição doeu.
Ah, que coisa estranha é o homem.
E a mulher.
Dois seres que pagam amor com amor. Que pagam rejeição com novo amor. Que jogam na cara do outro um novo outro.
Que coisa estranha, que coisa doida, que coisa jacu, que coisa nossa.

SUMIR, SUMIR
Rejeição é um treco duro, meninas. E acho que, diante de uma rejeição, é possível relevar umas semaninhas de palavras a mais ditas, fotos a mais publicadas, gestos a mais feitos.
Só que só um pouco. Que rejeição é um bicho magro querendo engordar. Se alimentar, ele comerá bolachinhas de dor, bistequinhas de paranoia.
Meninas, meninas, eu já falei disso algumas vezes, mas falo de novo:
Fim de amor é morte. O problema é que fim de amor é um tipo de morte em que a gente tem o controle do cadáver. Que a gente pode escolher não enterrar. O fim do amor é a era do zumbi, a terra devastada.
Distância absoluta e total e completa.
Mas daí me inventam o Facebook. E irresistivelmente, a gente entra pra essa negócio, fingindo que aquilo ali é uma grande coletânea de links, friends, shares  e “ois” e “olás”.
Quando descascado, a gente sabe que rede social é outríssima coisa: é um museu da gente mesmo. Um outdoor do nosso eu. A novela em que o Maneco, o João Emanuel, a Glória Perez é você… Em que a Ísis, o Gianecchini, o Cauã, a Grazi é você.
Não, mil vezes não.
Mais do que saber se um homem pode ou não postar fotos com outras pra te machucar; mais do que entender o quanto de razão, de loucura, de maldade tem nisso; mais do que escavar a profundeza da alma humana – porque acreditem, nesses fundilhos da nossa existência, há uma lama linda de doidice –; mais do que tudo isso, sejamos docemente práticos. Sejamos menos cruéis – conosco e com os outros.

Acabou, bloqueia. Acabou, limpa as fotos do ex-casal. Ninguém, nem mesmo um casinho que você tiver na sua nova temporada de amores, ninguém precisa ver e saber do que passou. Vergonha nenhuma do nosso passado, bem entendido. Mas é mais uma questão de cortesia e esperteza. Nenhum bocó que respire consegue resistir à comparação com o que passou. Ninguém precisa saber do passado de ninguém. Vamos ser francos, essencialmente francos: quanto mais a gente solta do nosso passado, mais o outro quererá saber. Porque nós somos igualzinhos aos outros. O inferno não é um outro. O inferno sou eu.
É você.
Apagar as fotos do ex. Bloquear o ex, evitar vasculhar. Uma quarentena, uma época de reclusão (da rede) social é mais do que sua obrigação… É tudo o que você precisa.
Não frite esse miolinho lindo tentando entender se ele, o seu ex, esfrega ou não a dor da rejeição na sua face.
Tire a sua face do Face.
Tem muito vida lá fora, tá?
Um dia você volta.
Enterrar os mortos faz bem pra saúde.


J. ANTÔNIO Revista marie claire

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