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Depois que nos tornamos adultos, muitas coisas diferentes podem nos deixar com raiva. A raiva é conseqüência da contrariedade. Ficamos com raiva quando somos contrariados em algo que não estamos dispostos a aceitar. No entanto, a biologia animal nos ensina que a raiva é uma reação à ameaça. Quando um animal se sente ameaçado, ele reage com raiva. Um sentido mais profundo da raiva aparece quando compreendemos que nos sentimos ameaçados pela contrariedade. E o sentido mais profundo de todos surge quando a contrariedade revela seu lado emocional: O que nos deixa contrariados é a recusa do mundo em atender nossos desejos, ou seja, nossas demandas afetivas. Sentimo-nos ameaçados quando nossas demandas afetivas são recusadas. Mas, onde está a razão para nos sentirmos ameaçados por isso? Nosso eu é formado através de relações afetivas. É pela identificação com outras pessoas que nossa identidade se forma. Consequentemente, frustrações afetivas são uma ameaça à nossa identidade. As crianças não têm consciência da morte. Elas não possuem noção do que pode ameaçar sua vida. Por isso, toda ameaça experimentada por uma criança é afetiva, inclusive a fome. A criança julga a fome como a recusa do mundo frente a uma necessidade afetiva dela. Portanto, uma criança com raiva está protestando contra a condição de suas relações afetivas. O protesto pode ser circunstancial, ou pode ser generalizado. Crianças insatisfeitas com o rumo geral de suas relações são mais irritadiças do que crianças apenas ocasionalmente insatisfeitas. 

O sentido de toda manifestação de raiva é a insatisfação com nossas relações. A raiva é um protesto contra a precariedade afetiva à nossa volta, e seu objetivo mais profundo é modificar as coisas para melhor. É justamente isso que torna a raiva uma emoção tão ineficaz. Pois, demonstrações de raiva tendem a afastar as pessoas de nós ao invés de aproximá-las um pouco mais. Assim, a raiva tende a piorar a situação contra a qual ela se insurge. E não há comportamento que permaneça inalterado quando seu objetivo é constantemente frustrado. Nossas manifestações raivosas tendem a perder o fôlego depois de sucessivas e constantes conseqüências negativas. Aos poucos, vamos desistindo de tentar nos aproximar dos outros com a raiva. Gostaria de dizer que essa desistência ocorre concomitantemente ao aprendizado de maneiras mais eficazes de buscar relações afetivas satisfatórias. E isso de fato ocorre em algum nível. Porém, num nível mais profundo, a supressão das manifestações de raiva significa o conformismo com as relações insatisfatórias. Deixar de exprimir a raiva significa amadurecimento, mas também significa deixar de lutar pelo melhor. No entanto, não significa deixar de desejar o melhor. As manifestações de raiva são suprimidas; a raiva não. Por dentro, a frustração continua, e a raiva também. O que muda é a manifestação da raiva, que agora não ocorre mais explicitamente. Ela implode por dentro. As conseqüências negativas da raiva nos ensinam que engoli-la a seco é mais conveniente. Pode ser que engolir a raiva não ajude muito na busca pelos relacionamentos que desejamos, mas também não ameaça tanto o pouco que já temos. E em meio à impossibilidade de conseguir o melhor, acabamos conformados em preservar aquilo que temos e que sempre nos pareceu tão pouco.

Mesmo insatisfeitos com nossas relações, tememos piorá-las ainda mais se botarmos pra fora toda a raiva que sentimos. Assim, a raiva que antes era uma reação à ameaça se torna uma ameaça por si mesma. Passamos a temer nossas manifestações de raiva e a evitar qualquer situação que nos deixe contrariados. E isso significa, infelizmente, nos afastar mais ainda das pessoas das quais queríamos nos aproximar. Afundamos cada vez mais no poço do conformismo, e o conformismo vai amortecendo a alma até nos esquecermos que um dia já desejamos o melhor. Esquecemo-nos, além do mais, que ainda desejamos esse melhor. E o desejo de buscar o melhor em nossas relações, há tanto tempo assim esquecido, faz com que nos relacionemos de maneira quase mecânica uns com os outros. Mesmo as pessoas mais extrovertidas e que amadurecem os meios de se aproximar dos outros passam por esse processo de conformismo. Em certo sentido, crescer é passar por isso. Mas, não é possível culpar o mundo à nossa volta. As dificuldades que os outros têm de se relacionar afetivamente são também nossas, e a raiva com que reagimos defronte às contrariedades é a prova mais evidente do quanto somos ineficazes e incapazes de estabelecer as relações que desejamos. O que devemos fazer é resgatar esse desejo, repensá-lo e colocá-lo mais uma vez na pauta principal do dia. E isso pode ser muito difícil de fazer quando nem mais nos damos conta do quanto já nos conformamos em deixar esse desejo de lado. 

Daniel Grandinetti – Belo Horizonte

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