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nova coluna aos domingos: Jane Austen e os Rapazes. O objetivo é oferecer aos leitores deste blog uma visão masculina das obras de Austen.

Com vocês: Alan Lacerda*




Eu gostaria de articular neste texto o tema do tempo no romance Persuasão, ressaltando suas implicações para outros produtos culturais. Publicado no ano de 1818 após a morte de Austen, a história contida no texto é ela própria uma sequência a eventos prévios. Afinal, aprendemos já no início do Volume I que Anne Elliot, a heroína do romance, recusara oito anos antes a proposta de casamento de um humilde capitão naval por quem estava apaixonada. Persuadida da impropriedade da união por parentes e por sua melhor amiga, ela encerrou a conexão ao custo da vivacidade de sua juventude, uma vez que ela passou com o tempo a ser da opinião de que seria mais feliz se tivesse aceitado a união.
No momento em que a história começa, Anne tem mais uma vez a oportunidade, aos 27 anos, de voltar a se encontrar com seu antigo pretendente, o capitão Wentworth, que retorna rico das guerras napoleônicas. Os dois obtêm assim uma segunda chance de retomar um amor não realizado, interrompido pelo excesso de prudência em uma idade na qual o mais comum é ser impulsivo. “Ela fora forçada à prudência em sua juventude e aprendeu o romance na medida em que envelheceu – a sequência natural de um começo incomum.”
Não é novidade dizer que a tradição romântica se alimenta com frequência em seus produtos culturais do mecanismo do tempo concentrado. É comum, por exemplo, que filmes românticos terminem com a festa do matrimônio ou outro ponto culminante de felicidade percebida, sem se deter no que acontece em seguida. Mesmo os melodramas do cinema cujo final envolve separação ou tragédia costumam focar o momento amoroso que ocorreu antes do triste fim.
            O que marca Persuasão e sua influência é, entretanto, a articulação da ideia de espera. “Em Persuasão as pessoas envelhecem”, aponta judiciosamente Deidre Lynch em sua introdução à edição da Oxford World’s Classics, e as consequências da passagem do tempo e da incerteza produzida pelas mudanças históricas e pessoais que se deram no intervalo marcam cada movimento da heroína. Até as alterações de aparência são registradas pela própria Anne, em típico registro feminino, a respeito da perda de seu primeiro “florescer”.
            Há notáveis exemplos do tema da espera no cinema recente. Em A Casa do Lago (The Lake House), filme americano de 2006, o par romântico se comunica por meios fantásticos mesmo estando separados por um hiato de dois anos. A conclusão da trama, que não gostaria de revelar aqui, necessita fundamentalmente de uma decisão de esperar. Não à toa, o filme faz referência explícita ao romance de Jane Austen.


De maior grandeza cinematográfica é o projeto dirigido pelo diretor Richard Linklater, composto pelos filmes Antes do Amanhecer (Before Sunrise), Antes do Pôr do Sol (Before Sunset) e Antes da Meia-Noite (Before Midnight). Intervalos de nove anos separam a primeira obra da segunda e esta da terceira, respectivamente 1995, 2004 e 2013. Além de coincidirem com os momentos na vida dos dois personagens principais, os próprios atores que os representam são os mesmos, e envelhecem, por óbvio. Muito especialmente, o tema das promessas e amores não realizados ou não desenvolvidos liga de maneira pungente os primeiros dois filmes. Já me ocorreu que Linklater e os dois atores, Julie Delpy e Ethan Hawke, possam ter lido Persuasão, apesar da ausência de referências explícitas ao romance.


Em todo caso, vocês não precisam esperar pra ver – os produtos, começando com o próprio trabalho de Austen, já estão disponíveis para nosso encantamento.

Alan Daniel Freire de Lacerda é Professor do Departamento de Políticas Públicas da UFRN e doutor em Ciência Política pelo IUPERJ. 

Uma pequena parte do acervo de Alan.

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