por Tággidi Ribeiro
Escrevi esse post aqui, sobre o que fazer em caso de estupro, para a vítima. Agora, quero falar a você que pode eventualmente ser conhecidx, amigx ou parente de uma vítima de estupro. Sabendo que a maioria dos estupros acontece em casa, sendo perpetrados por conhecidos da vítima, você pode ser inclusive testemunha (ocular ou não) de um. Por isso, acho bom você ficar preparadx para ser diferente do que as pessoas costumam ser nesses casos: insensíveis, cruéis, desconfiadas e não confiáveis.
1. Em primeiro lugar, se uma mulher - mãe, irmã, amiga, prima - disser a você que foi vítima de estupro, não pergunte "O que você estava fazendo?"; "Como estava vestida?"; "Mas porque foi falar com ele?"; "Por que saiu sozinha?". Também não diga: "Você não devia ter bebido tanto."; "Acho que você deve estar confusa. Ele não faria isso."; "Vai ficar sozinha com homem, sabe o que acontece...".
Cada uma dessas falas é uma sentença que repassa à vítima de estupro a responsabilidade por ter sido estuprada. É como se ela pudesse, por meio de algum comportamento ou atitude, estar a salvo desse crime hediondo. Na mesma medida em que responsabiliza a vítima, tira a responsabilidade do estuprador, tornando-o alguém que teve um motivo para praticar esse crime. De todas essas falas, a pior é, obviamente, aquela que deliberadamente duvida da vítima: "Ele não faria isso." é uma frase que funciona bem como um segundo estupro - portanto, mesmo que a diga só para si mesmx, faça-o sentindo vergonha. Ah, não fique caladx e NUNCA diga: "Esquece isso."
2. Em segundo lugar, faça a coisa mais importante: ofereça apoio, diga que conte com você, leve a vítima ao hospital, à delegacia. Peça ajuda para ela, defenda-a de constrangimentos na delegacia, no hospital, pois muitas vezes os profissionais dessas instituições reproduzem os preconceitos da sociedade machista. Pode ser que ela não queira denunciar o estupro: em qualquer caso, dê seu apoio à vítima - mas deixe claro que se ela resolver denunciar, você estará ao lado dela.
Atenção: se você for testemunha ocular de um estupro, é seu dever chamar a polícia ou de qualquer forma fazer parar o ato (e chamar a polícia). Não raro lemos casos em que as vítimas foram abusadas na frente de outras pessoas e ninguém fez nada (leia e chore). Ah, caso você tenha dúvida de que o ato sexual por você presenciado seja estupro ou não: intervenha primeiro, pergunte depois.
3. Caso a vítima de estupro venha a engravidar, deixe por conta dela a decisão de abortar ou não. E a apoie em qualquer caso. Lembre-se de que o aborto para vítimas de estupro é legal neste país - ainda que haja gente querendo suprimir esse direito da mulher, mercantilizando os úteros femininos. Se você ainda não ouviu falar sobre, o Estatuto do Nascituro prevê uma bolsa para as mulheres que decidirem não abortar fetos frutos de estupro. Se você não sabe, a Elba Ramalho 'intercedeu' por um feto, chantageando emocionalmente uma menina de 14 anos que havia sido estuprada pelo pai. Não faça isso, não faça parte disso. Pense nessa pessoa sofrendo a seu lado e haja legalmente, deixando crenças e convicções morais de lado. Essa pessoa será sua filha, amiga, namorada, mulher, mãe, avó... Ela vai precisar do seu apoio, que é a grande palavra desse post.
Por fim, quero lembrar que vivemos em uma cultura do estupro, na qual a vítima, via de regra, é acusada, julgada e culpada em lugar do estuprador. Justamente por isso, precisamos aprender a ser o contrário, precisamos aprender a ter empatia e compaixão pela vítima, não pelo criminoso, mesmo que este seja seu vizinho, amigo, pai, irmão, marido, filho, avô. Pense bem: depois de tudo o que você já leu, de saber quão traumático pode ser o estupro, levando suas vítimas mesmo ao suicídio... você ainda vai duvidar, culpar a vítima? Você ainda vai preferir continuar casadx com um estuprador a denunciá-lo? Vai esconder (de si mesmx) que alguém conhecido, ou até muito próximo, é estuprador? E se o estuprador fizer mais vítimas? E se ele vitimar você?
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