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por Mazu


Já falamos aqui no Blog em várias ocasiões sobre a violência contra a mulher e até sobre a violência da mulher contra o homem. Na maioria das vezes, falamos da violência física porque ela chama mais a atenção, é mais evidente pelas marcas que produz e, consequentemente, mais evidente nas estatísticas. 

A violência psicológica foi abordada de maneira geral porque quando falamos de diversos preconceitos e padrões acabamos tocando na questão. Se existe um padrão preconceituoso do que é mulher boa e certa e do que as que não o são merecem por não serem, isso é também violência psicológica.

O que aconteceu foi que, ontem, assisti um episódio de uma série policial que gosto muito chamada Criminal Minds, que tratou da violência doméstica psicológica.
Elenco de Criminal Minds

O enredo principal de "The Crossing", o episódio em questão, gira em torno de uma mulher que um dia disse "ops" para um técnico de informática que prestava serviço para sua empresa, e ele, então, com base nisso, passou a persegui-la e criou uma relação fantasiosa entre eles. Esse caso daria um debate bem interessante que vou deixar para a próxima, já que gostaria mesmo de comentar o enredo secundário, que trata de uma mulher que atirou no marido enquanto ele dormia.

Essa senhora nunca tinha sofrido nenhuma espécie de violência física, mas seus advogados estavam alegando "síndrome da mulher agredida" (tradução super literal, não sei se temos alguma coisa parecida no Brasil). Quando os agentes vão entrevistar os dois filhos do casal, eles dizem que o pai, na verdade, era super paciente com a mãe, que era uma péssima dona de casa e burra.  Os agentes visitam a casa da família que era muito limpa e tinha um esquema de organização quase milimétrico. E quando vão entrevistar a mulher, ela diz que não, que o marido nunca a agredira nem quando ela merecia e que, era, pelo contrário, muito paciente tendo em vista que ela era péssima em tudo. Disse também que não participava da vida escolar dos filhos porque já os constrangia bastante dentro do lar e não queria fazer isso também fora de casa. Ou seja, o marido criou para ela (e para os filhos) uma imagem de incompetente, incapaz e não-merecedora. E isso justificou anos de maus tratos (psicológicos) da família, enquanto ela era basicamente uma empregada doméstica na casa.
Mary-Margaret Humes, em sua excelente interpretação
da esposa assassina
Na hora, lembrei-me de diversas pessoas que conheci ao longo da vida, inclusive de mim mesma. Tive, durante a faculdade, por quase dois anos um namorado muito ciumento cuja tática era me fazer sentir burra e, às vezes, feia. Nunca chegou a nenhum extremo porque me livrei disso, graças a mim. Lembrei também de uma prima, uma amiga e do caso Yoki, que já comentei aqui. Mais uma vez, não quero dizer que devemos matar nem usar de violência, insisto nisso porque quando fui tratar do caso da Elise andaram dizendo por aí que eu estava defendo o ato dela, e eu não estava. Nem estou agora defendendo o ato da mulher fictícia que assassinou o marido no seriado. As Subvertidas são contra toda forma de violência. Estou só dizendo que a violência psicológica é uma das principais formas de dominação, se paramos para pensar. Já dissemos aqui, existe um imaginário idiota na nossa sociedade de que diz que tudo de ruim que acontece com uma mulher acontece por culpa dela. Esse imaginário besta junto com imposição psicológica e falsa de que não somos boas o suficiente ou não somos boas como são os homens em determinadas coisas é o que forma o aparelho da opressão feminina.

Lembra que a Tággidi escreveu sobre motivos para não casar? Então, essa crença do "amarre um homem se for capaz e, se não for, morra sozinha" é uma das maneiras de diminuir a gente. E mais, essa opressão psicológica "de ser menos" acaba por fortalecer outros imaginários patriarcais da nossa sociedade, tipo o de que precisamos de um homem para sermos inteiras, completas. O tipo de coisa que irrita muito. E as companheiras lésbicas? E se uma mulher simplesmente não quiser casar ou qualquer coisa do tipo? Porque, na real, relacionamento não completa, nem conserta ninguém.

E aí, enquanto esse aparelho da opressão funciona na nossa sociedade, algumas mulheres toleram violência, toleram o fato de trabalhar muito mais, como acabou de descrever a Bárbara, a gente vai ficando tolerante porque é incutida em nós a idéia de que temos que ser tolerantes, porque somos menos. Perigoso, não é mesmo? E já deu né? Passou da hora de romper com isso, nós não somos menos. Nunca fomos. Ser solteira não é defeito, muito menos ser independente. E se uma mulher tem um homem em sua vida, isso pode ser bom ou ruim, mas ela é o que é, com ou sem ele.

Hoje, estou de aniversário, 31, vai vendo. Minha irmã me ligou e eu estava me queixando de estar envelhecendo ao que ela respondeu: pelo menos você já casou. Fiquei tão chateada, de todas as coisas que já fiz nessa vida, em 31 anos, (não vou mentir: queria ter feito mais), mas, ainda assim, ela se lembrou só do meu casamento como um grande feito que deveria me acalmar diante do fato de passar dos trinta. Sei que ela não fez por mal, afinal, somos criadas assim. Escutamos nas novelas, filmes, em todos os lugares que casamento e filhos deveriam ser nossos grandes objetivos de vida. E é por isso que movimento feminista precisa crescer, ainda mais, para ocupar, ainda mais, esses espaços e quebrar esses padrões.

Enfim, todos os episódios de Criminal Minds começam e terminam com uma citação, vou copiá-los e terminar com a citação final do episódio que comentei:
"Woman must not depend upon the protection of man, but must be taught to protect herself."
Susan B. Anthony
(Uma mulher não deve depender da proteção de um homem, mas deve ser ensinada a defender a si mesma)

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