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por Tággidi Ribeiro



No dia 26 de agosto duas meninas foram estupradas por integrantes de uma banda baiana de pagode. Falei sobre a barbárie aqui. O caso foi noticiado sem destaque pela grande imprensa, sobretudo depois que o laudo da perícia comprovou a violência sexual. Da primeira página do portal UOL, simplesmente sumiu. No G1, esteve só até antes de ontem, mesmo fazendo parte da lista de notícias mais comentadas. Nenhum grande portal informativo fez um textozinho sequer sobre estupro coletivo, leis de estupro no Brasil, culpabilização de vítimas de violência sexual ou, mesmo, laudos comprobatórios de estupro (tem gente que não acredita que eles provem alguma coisa...).

Mas por que a grande imprensa agiu dessa forma? Por que, mesmo atraindo muitos leitores (no G1, a notícia mal noticiada conta mais de 700 comentários), a imprensa optou por abafar o caso? Por que não fazer aquilo que se espera que a imprensa sempre faça - escarcéu, superexposição, sensacionalismo? Por que CALAR?

Quem nos representa?
A resposta é simples: porque os donos da imprensa - de toda a grande imprensa desse país - são homens coniventes com a violência contra a mulher. Coniventes porque eles – e/ou seus amigos e parentes – também são, eventualmente, abusadores, assediadores, estupradores e tanto a brandura das leis brasileiras quanto a própria impunidade em relação a crimes sexuais lhes é interessante. E mais interessante ainda é manter a população ignorante, preconceituosa e, consequentemente, também violenta, o que lhes garante o caos necessário à proliferação da cultura, para as mulheres, do claustro e do medo - cultura que muitas feministas chamam acertadamente de cultura do estupro.

Nós feministas somos obviamente críticas dessa cultura. A atacamos em blogs, passeatas, entrevistas, teses; brigamos com amig@s que não a reconhecem, com gente na rua, dentro das universidades, nas redes sociais; denunciamos inúmeras manifestações dessa cultura ao CONAR, à PF, à SPM. Na maioria das vezes, porém, não somos ouvidas em nossas reivindicações e a cultura do estupro não segue intacta, ela se alastra, e por isso devemos estar alertas.

100 mulheres é pouco.
Não é o suficiente fazermo-nos ouvir em determinadas instâncias, mesmo naquelas que existem por e para nosso gênero. Falta-nos o poder, e o dinheiro que confere poder a quem o tem. Faltam poder e dinheiro para @s feministas. Somos pouc@s nas câmaras de vereadores, prefeituras, governos estaduais, câmaras estaduais e federais de deputados, senado. Temos uma presidenta, a terceira mulher mais poderosa do mundo, mas esse lugar de poder não nos trouxe mudanças efetivas pois sabemos que para governar é preciso base de apoio e a base do governo Dilma não é feminista.
 
Por isso, nós feministas precisamos ocupar mais postos políticos, para que possamos exigir o cumprimento das leis, para que possamos propor e modificar leis. Além disso, precisamos ter canais de televisão, jornais, rádio, megaportais de notícias, agências de propaganda. Precisamos chegar aos ouvidos e olhos das pessoas também de forma massiva, para que a misoginia, a desigualdade, a injustiça, a violência, o desrespeito e a ignorância da mídia machista recebam a contrapartida lúcida e igualitária do feminismo. Para tanto, o caminho a seguir é longo.

Enfim, precisamos de poder e dinheiro para que não precisemos esperar nem pedir à mídia e ao governo que defendam duas meninas de 16 anos vítimas de estupro coletivo.

Vítimas

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