por Mazu
Li esses dias uma matéria absurdamente curta, rasa e superficial sobre a participação das mulheres na Revolução Francesa. A matéria de uma página estava na Edição de 18 anos da revista Persona Mulher. Pessoalmente, tenho uma porção de problemas com a revista, mas a matéria me lembrou de umas questões bem importantes.
Li esses dias uma matéria absurdamente curta, rasa e superficial sobre a participação das mulheres na Revolução Francesa. A matéria de uma página estava na Edição de 18 anos da revista Persona Mulher. Pessoalmente, tenho uma porção de problemas com a revista, mas a matéria me lembrou de umas questões bem importantes.
Primeiramente, a autora conta como, na verdade, as mulheres ("mães com os filhos famintos") foram realmente quem impulsionaram a Revolução Francesa. Aliás, a revista toda segue muito essa linha de mostrar como, no fundo, no fundo, as mulheres estão por trás de tudo que acontece no mundo. Esse "por trás" me irrita muito, em primeiro lugar, porque já temos consciência, hoje, de que as mulheres participaram muito mais da vida política e social do que conta a história. Em segundo lugar porque devíamos estar à frente ou ao lado, pelo menos, e não por trás de nenhum acontecimento ou personagem histórica.
Mas, aparentemente, lendo livros de história e olhando para a constituição das instituições políticas, de esquerda, direita ou centro, a impressão é que as mulheres são sempre coadjuvantes ou vices, quando sequer figuram em algum acontecimento. A pergunta é: por que a história menciona pouco ou quase nada as mulheres? E quando menciona, por que é sempre a esposa, a amante, a filha de alguém?
Montserrat Moreno em seu livro Como se aprende a ser menina? explica que os homens escreveram a história e de alguma forma excluíram ou minimizaram a participação das mulheres em eventos históricos. A isso soma-se a forma como somos educadas: aprendemos a ocupar o lugar de coadjuvante, desde pequenas.
A impressão que tive da Persona Mulher é que a publicação festeja esse lugar de coadjuvante há dezoito anos. A matéria sobre a Revolução Francesa, por exemplo, aponta que estivemos ali e fizemos isso, mas esquece de mencionar o que as mulheres conseguiram com esse levante. Aonde chegaram?
Não vou nem entrar no mérito do tipo de revolução que foi aquela, uma revolução burguesa e tals. Mas por que a participação feminina deve ser lembrada ou festejada? É ponto pacífico que as mulheres lutaram na revolução, contudo, depois, algumas não foram consideradas nem ex-combatentes, nem nada. Tudo bem, algumas constam como heroínas e combatentes em alguns documentos históricos, mas alguém lembra de uma jacobina ou girondina importante? Algum lugar político de proeminência foi dado a alguma dessas mães? A matéria não apontou nenhum desses fatores. Ficou só no "olha só do que a gente também participou".
Obviamente, as mulheres fazem/fizeram grande diferença (e o trabalho pesado também) nas mudanças históricas e na participação social desde sempre. A grande questão para o movimento feminista contemporâneo é menos afirmar e festejar a participação feminina, e mais o resultado dessa participação. Se as mulheres eram boas o suficiente para subir no cavalo e destronar um rei, elas deviam ser boas o suficiente para o resto, fazer parte do governo que se formava em seguida.
Atrás do burguês sempre há uma grande mulher, atrás do revolucionário não há ninguém porque sua companheira segue ao lado e nunca atrás |
A gente esteve na história sempre, o tempo todo, ao lado e à frente e não por trás de nada, não. Penso que o momento chegou de cobrar esse nosso lugar ao lado e à frente. Comprovar historicamente a nossa capacidade e participação é mega importante, lógico que é, mas vira um elefante branco se não usarmos para ocupar espaços que nos permitam escrever e conduzir a história.
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