por Mazu
Eu me apaixonei por Kung Fu e Sanshou durante meu namoro com meu companheiro, ele praticava e gostava muito e, um dia, me levou para conhecer. O Kung Fu é uma arte milenar e linda, requer muito mais concentração e inteligência do que as pessoas julgam. O nível de autoconhecimento e autocontrole dos praticantes sérios é visível e admirável.
Apesar de toda a admiração, não tive nem tempo, nem oportunidade ainda de praticar o Kung Fu (em especial o Choy lay fut, o estilo que tive contato, é bom dizer porque são muitos estilos). Mas conhecer o Sanshou, o boxe chinês que compartilha alguns dos fundamentos, me fez muito bem. Em tudo, desde entender e concatenar mais os movimentos físicos, ganhar mais coordenação e mais cárdio até perceber que eu vivia guardando muita raiva no coração. E, de verdade, é do coração que vem a força.
Nessa onda de praticar, eu comecei a assistir lutas e acompanhar os treinos, me interessar mesmo. Ultimamente, o maridão anda treinando com uma equipe de MMA aqui de Brasília, e eu acabei indo assistir ao Shooto Brasil 34, e convivendo mesmo com a galera fã e praticante do Mixed Martial Arts, que como o nome diz, é uma mistura de várias modalidades de artes marciais, as mais "pedidas" são o Muay Thai, o jiu-jítsu e o Wrestling, mas não para por aí não.
Feliz em demonstrar o que "bater como uma menina" significa |
Bom, aí, neste convívio, comecei a notar algumas coisas. Primeiro, refiri-me ao julgamento das pessoas ali em cima porque existe muito mau julgamento e pré-julgamento no mundo, e com as artes marciais não seria diferente. Existem vários preconceitos relacionados a esse tipo de esporte, e eles não dizem respeito apenas às mulheres praticantes de artes marciais.
Na verdade, o julgamento das pessoas com relação às artes marciais é super preconceituoso também com relação aos homens, existe um estereótipo, na maioria das vezes, falso, do marombado burro e violento que é mais ligado aos meninos do jiu-jítsu e Muai Thay, mas acaba não deixando ninguém de fora. Agora, quando você acompanha os praticantes sérios do esporte, você percebe que as coisas são bem diferentes, eu, pessoalmente, acabei por conhecer muita gente legal e sábia. É, pois é, pois é, pois é.
Mas este blog é feminista e a minha elegia acaba aqui. E eu começo a pancadaria perguntando: se a imagem é ruim para os caras, imagina para as meninas?
Cris uma vez colocou para dormir um jornalista que disse que mulheres são mais fracas que homens |
Acho que vale ressaltar que características que são consideradas masculinas, tipo força, porte físico, habilidade para luta, são consideradas masculinas por imposição social. A gente falou disso em outras ocasiões aqui no blog. Logo, as meninas mais fortes e mais centradas não são necessariamente lésbicas. Vale dizer também que, por sua vez, nem todas as lésbicas possuem essas que são consideradas as características masculinas. Força física, a falta ou excesso, a percentagem de musculatura de um corpo nada tem a ver com sexualidade e, de acordo com pesquisas recentes, nem com sexo. Eu me sinto boba afirmando o óbvio, mas a gente ouve cada comentário quando as meninas estão lutando, que olha...
Gina Carano e as marcas da guerra |
É verdade, as meninas têm ocupado seu espaço nas artes marciais (vide as medalhistas olímpicas) e, durante o pouco tempo que pratiquei, nunca senti nenhuma diferenciação ou discriminação na academia que frequentei. Agora, o MMA insiste em manter as mulheres nuas segurando placas nos seus eventos, e não consigo entender o porquê. Que sentido faz um evento ter mais garotas de biquíni do que lutadoras, se estamos falando de um evento de luta e não de um desfile de roupas de banho?
Mischa Tate, beleza padrão de ring girl, mas prefere descer a porrada |
Assistir ao Shooto Brasil 34 me deixou louca da vida. Uma luta, dentre as onze do evento, foi feminina e, na minha opinião, a mais legal. No resto do evento, meninas com bundas gigantescas de fora mostravam em que round a luta estava porque né? Contar até três é phoda. A gente precisava mesmo de ajuda. E se eu começar a falar dos eventos do UFC, não vai ter espaço né? Porque lá, mulher lutadora nem existir, existe. Existem as belas esposas, as belas ring-girls e uma juíza, porque os juízes são escolhidos e designados pela Associação Atlética Norte Americana e não pelos grandes empresários do evento. Não vou mentir, assisto, mas ô evento machista do baralho.
Participação femina no Shooto 34: 1 lutadora... |
...três ring-girls |
Vasculhando as internets por aí, encontrei este documentário rapidíssimo sobre Meninas do MMA, vale pelo depoimento da atleta, falando sobre ser mãe, mulher e lutadora, sobre o que é patrocínio para ela. É divertidíssimo também o depoimento da dançarina que dizia que não conseguia "nem olhar" para a luta de tão violento que era. É engraçado, o que 'violento' significa para cada um. Durante o Shooto, eu não pisquei na luta da Claudinha Gadelha (foto acima), que foi tão daora! Em compensação, cada vez que passava uma daquelas meninas de bunda de fora e subiam os comentários do público, eu tinha vontade de não ver e nem ouvir e, talvez, morrer ou matar alguém.
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