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por Tággidi Ribeiro

No madrugada do dia 26 de agosto, domingo, duas primas adolescentes de 16 anos foram estupradas, uma delas por dez homens, todos integrantes de uma banda de pagode chamada New Hit. O crime hediondo aconteceu na cidade de Rui Barbosa, Bahia. Nove integrantes da banda e mais um PM, acusado de ter sido conivente com o abuso, estão presos.

A história é mais uma das histórias de horror que meninas e mulheres têm para contar e vem se juntar às terríveis histórias de estupros coletivos, cada vez mais noticiadas na mídia. Pela falta de estatísticas e informação, não podemos dizer se a prática desse tipo de estupro vem aumentando ou se são as mulheres que têm reportado com mais frequência o crime. Desconfio que tenha que ver em alguns casos com a disseminação da ideologia masculinista - um dos frutos, penso, do backlash.


Fora a pura crueldade do ato, é escandaloso perceber que mais uma vez as vítimas arcam com o ônus do descrédito, da violência verbal de anônimos, da acusação de serem tão culpadas quanto os estupradores, ou mais, pois 'estavam pedindo para serem estupradas' ao entrar no ônibus onde estavam dez homens a quem pediriam autógrafos e com quem tirariam fotos. As adolescentes estão confinadas, pois os fãs e defensores da banda julgam que elas querem somente fama e dinheiro, e as agridem com ameaças, inclusive de morte. Fama? Dinheiro? Mostre-me uma só vítima de estupro coletivo que conseguiu fama e dinheiro e eu te direi quem és.

No entanto, para curar a cegueira do machismo, não bastam as palavras do coronel Paulo Uzeda, que afirmou ter encontrado as meninas completamente sujas de sêmen. Não basta também o exame feito pela ginecologista Maria Verônica Simões, que confirma a violência sexual. Não bastará, quiçá, o laudo do Departamento de Polícia Técnica, que deve sair em poucos dias.

Quem, homem ou mulher, foi criado numa cultura do estupro, tem inúmeras justificativas para que mulheres sejam estupradas:

1) elas entraram em um ônibus com dez homens, o que elas esperavam?
2) elas queriam 'dar' pra eles.
3) o que estavam fazendo de madrugada sem os pais, já que eram menores?
4) meninas de 16 anos não são mais virgens nem inocentes.
5) devem ter consentido no início, mas depois não gostaram.
6) eles não devem ter feito o que elas queriam, por isso inventaram a história.
7) com aquelas roupas, o que elas estavam pensando?
8) homens são assim mesmo, não pode dar brecha...

Bem, se eu fosse um homem e dissessem que sou um estruprador em potencial, basta que eu tenha oportunidade, ou que eu esteja em vantagem numérica em relação às mulheres, eu sentiria vergonha e sairia gritando aos quatro ventos que 'não, não, há homens confiáveis!'. Além disso, eu ficaria preocupadíssimo com as mulheres no geral e em especial com aquelas que me são caras - mãe, irmãs, tias, avós, amigas. Porque, sério, imaginar que, assim como você, seus amigos e parentes do sexo masculino são estupradores em potencial deve ser no mínimo aterrador e ainda degradante.


Mas, como eu dizia, gente inserida na cultura do estupro, essa que nos tira a empatia por mulheres que sofreram violência sexual, arranja qualquer justificativa para o crime. Quando todas as justificativas se esgotam, há ainda quem afirme que está "torcendo pros meninos sair dessa adoro eles e nem porisso vou deixar de curtir a banda". 

Essa gente tentou organizar uma marcha em favor dos músicos da New Hit suspeitos de estupro. Felizmente, a marcha foi cancelada no Facebook (https://www.facebook.com/pages/Banda-New-Hit/235598166526876). Esperamos que seja cancelada de fato, pois parece simplesmente absurda. Nem Julian Assange mereceu tanta defesa.

Às meninas da Bahia, todo o apoio das Subvertidas. A todas as mulheres que têm sua vida sexual devassada e são colocadas sob suspeita quando reportam uma violência - vocês não estão sozinhas. 

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