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por Mazu

Eu pessoalmente não gosto de stand-up, com preconceito ou sem, com pimenta ou com sal, não gosto. É pessoal. Contudo, divido minha vida com alguém que gosta e acabei assistindo um desses shows na TV. A gente já falou muito de humor aqui mesmo assim, fiquei pensando numa outra coisa. O que significa transformar coisa grave que acontece no cotidiano em piada? Tipo política, problema social, discriminação e preconceito, como isso tudo vira piada?

No caso em especial, o humorista encenava um trombadinha assaltando em inglês no Rio, isso porque as Olimpíadas estão chegando e todo mundo lá está aprendendo pelo menos um pouquinho do idioma para receber os turistas. Ele dizia como uma voz que imitava a de uma criança: gimme your wallet, you lose, playboy. E a platéia morria de rir.

O riso pode ser uma espécie de catarse, segundo alguns especialistas, alguma coisa incomoda e aí alguém fala e demonstra que sente também e o riso vem, meio que de alívio, tipo no caso da pergunta da Tia feita pela adolescente no Programa Livre. E aí, você pode usar a piada para dizer o que você sente e expressar realmente sua visão sobre alguém, tipo na parte em que o mentiroso diz o que ele acha realmente do seu chefe.

Mas, no caso da piada do trombadinha é um pouco mais grave. Acho que demonstra certo conformismo - aquilo do que se ri, uma criança assaltando alguém, assim como a mulher que apanha, ou os políticos corruptos, é parte da nossa vida. E, aparentemente, a gente está de boa com isso. A gente faz piada e ri para não chorar, sei lá. 

Aí, eu tive uma ideia meio Loyola Brandão de criar uma stand-up ao contrário, imagina só uma mulher espancada fazendo piada sobre a vida, ou uma criança agredida e abandonada ou um paciente terminal de câncer:

Oi, sou fulana. Uma coisa que vocês devem saber a meu respeito é que eu apanho todo dia do meu marido. O pior dia é segunda, agora eu gosto mesmo é de quarta, porque é dia de futebol e ele se esquece de mim.

Acho que causaria desconforto né? Eu espero. Mas e se fosse na terceira pessoa, imagina uns dos Rafas Bestas da vida dizendo:

Mulher de malandro gosta mesmo é de quarta-feira, que quarta tem futebol e aí ela não apanha.

Acho que é isso a chave para o riso, não é com você, não é de verdade, aí pode rir. Mas olha, se para haver riso precisa haver identificação (por isso que dominar outro idioma não significa entender piadas de outras culturas), se a gente ri, a gente se identifica.

Eu já fui assaltada por uma criança no Braz em São Paulo, foi uma das coisas mais tristes que me aconteceu. Já me passaram a mão no metrô, que também foi uma das piores coisas que me aconteceu. Eu queria mesmo que falar isso sério não causasse desconforto e sim debate, ação e mudança! E que falar disso brincando não fosse essa catarse besta, fosse só o que é mesmo, piada ruim, sem graça.
Ele é um comediante brilhante no quesito não fazer rir

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